domingo, 4 de dezembro de 2011

Entrou para a história o Sócrates Brasileiro.

Notícias sobre morte de celebridades estampam os jornais todos os dias. Estão banalizadas! Hoje só me sensibilizo para amigos ou conhecidos, aos demais dedico, a alguns, solidariedade ou indignação, dependendo da causa mortis. Amanhecer um domingo de final de brasileirão recebendo a tão previsível quanto indesejada notícia da morte do Dr. Sócrates me entristeceu de uma forma surpreendente. Afinal por que tanto abatimento? Uma curta meditação e me veio à resposta: O Dotô leva consigo uma parte da minha geração, de certa forma, uma parte de mim. O futebol arte, o bom futebol, aquele que de 1982 que ainda não trazendo o “caneco” foi recepcionado com toda pompa merecida, não pela mídia subserviente, mas pela torcida apaixonada e grata por ter sido encantada, respeitada e enaltecida pelo seu escrete que representou com maestria aquilo que todo torcedor gosta de ver; seu time jogar bem, com raça e determinação.

O Dr. Sócrates Brasileiro, agora será imortalizado. Passado os primeiros momentos de consumo da Globo e da CBF, que ele corajosamente enfrentou a ambas, na sua luta heróica pela democracia no futebol e pela democratização do país na campanha das diretas, ficará nos corações e mentes dos verdadeiros amantes do futebol, os muito que pagamos, a lembrança de um gênio de sua geração, de um grande profissional, que lutou pela sua categoria e buscou como um verdadeiro revolucionário contribuir mais para a história, que para sua conta bancária, mais para o seu povo que para o seu ego, e mesmo sendo genial, grande orador e profundo e crítico conhecedor do nosso futebol, não capitulou diante da imprensa golpista em troca de pouco. O Doutor sai da cena e entra para história, como um grande Brasileiro, o nosso Sócrates Brasileiro.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

As marchas anti-corrupção e os inocentes úteis.

 

Imagem extraída do Blog Conversa Afiada

O movimento de combate a corrupção que toma corpo em todo país gera em mim impressões contraditórias. Se por um lado é bem vinda a indignação, antes, aparentemente morta, por outro gera preocupação. Quando vejo pessoas esclarecidas e bem intencionadas empenhadas em trazer a tona os males feitos por corruptos e corruptores, onde eles estiverem, dispostas a dedicarem tempo, logo vida, a campanhas que dêem fim a impunidade reinante, penso que podemos estar vencendo, pelo menos, a letargia política e social que impregna a maioria da população. Mas não é bem assim. Tenho o hábito de assistir a programação oficial do parlamento e vi e ouvi os quadros do demtucanato anunciarem que a “massa cheirosa” iria as ruas combater a corrupção, e assim o fizeram. Na primeira tentativa alguns playboys pingados fizeram uma balada pífia com 14mil participantes em simultaneidade com outro evento popular que contou com mais do que o triplo dessas pessoas e manifestavam apoio as medidas econômicas da Presidenta Dilma. A mídia golpista alardeou a primeira e omitiu a última: suspeito. O movimento é encomendado, estimulado e direcionado. Até aí nenhum problema. Meu questionamento surge quando vejo alguns inocentes úteis acreditarem estar participando de um movimento espontâneo surgido nas redes sociais, uma tentativa vã de reeditar a primavera árabe, numa cegueira política incapaz de enxergar as semelhanças com a marcha pela família e as vassourinhas de Jânio Quadros.

A #globomente, a FDsP e a Ispia acobertaram toda a corrupção, violência e desmandos da ditadura, o acm é neto, o Agripino e seu rabo de palha são a própria encarnação do que há de mais a direita na política nacional, personas nascidas e criadas, politicamente, dentro do golpe, necessariamente golpistas, não têm credibilidade para capitanearem um movimento dessa natureza, e sabem disso. Tanto sabem que usam seu principal capital político, a mídia golpista, o já chamado PiG, para criarem a falsa impressão que o movimento é apartidário, contudo a despeito do aparelhamento da causa, a sociedade não pode e não deve ficar apática diante de temas que estão na ordem do dia como o voto aberto. Deputados e senadores não devem gozar do direito ao voto secreto. É falacioso e hipócrita o argumento por eles utilizados quando reivindicam para si a mesma modalidade de voto que o elegeram. Nós eleitores delegamos aos nossos representantes um poder que é nosso, e é mister que saibamos de que forma esse poder está sendo exercido. Todos que estamos dispostos a ação política temos a obrigação de estarmos inseridos nas lutas populares, e o combate a corrupção está na ordem do dia. Não me permitirei ser inocente útil nas mãos do PiG, mas não posso fechar os olhos a realidade. É necessário participar se não o bonde da história passará e nos deixará parados na esquina.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Projeto Chess Cidadania






A sociedade reivindica pessoas inteligentes e cultas que estejam aptas a pensar diante de situações cada vez mais complexas. De acordo com Edward de Bono, pai do pensamento lateral, “a educação atual desperdiça dois terços dos talentos dos seres humanos” e “a criatividade e o pensamento são as commodities do futuro”. Devemos então preparar nossos jovens para pensar. E pensar criativamente. A prática do Xadrez Escolar aponta essencialmente para essa prerrogativa. Quando um enxadrista prevê por meio de cálculos ou por insight uma variante de mate para poder anunciá-la antecipadamente, possui um dos maiores capitais de um jogador treinado ou de um mestre. Ver em xadrez é prever num universo de causas e conseqüências a realização de um projeto. A analogia com a habilidade desenvolvida pelos enxadristas desde a sua iniciação revela de que forma podemos capacitar o jovem a pensar. Como pensam os enxadristas? Claramente estão treinados na prolixidade de saber estabelecer e hierarquizar opções diante de uma solução problemática frente ao jogo. Pensar corretamente não é um ato isolado e aleatório. Precisa de cultivo. Quando um jovem educando aprende a discernir sobre a validade das avaliações dirigidas por si mesmo se capacita ao re-aprendizado, categoria um tanto quanto desprezada pelos sistemas educacionais vigentes.
O funcionamento de um grupo de estudo de xadrez na comunidade pastoral de Mãe Luisa aponta para a criação de condições do exercício da cidadania, na medida em que promove a socialização de crianças e adolescentes em torno de uma atividade lúdica produtiva, proporcionando diversão e aprendizado num formato multidisciplinar que abrange a inclusão digital, a iniciação ao uso da língua estrangeira na forma instrumental e a perspectiva de interação com outros grupos sociais quando da participação em torneios. A prática do xadrez escolar, segundo a UNESCO proporciona ao educando o desenvolvimento de habilidades tais como:
1. A atenção e a concentração;
2. O julgamento;
3. A imaginação e a antecipação;
4. A memória;
5. A vontade de vencer, a paciência e o autocontrole;
6. O espírito de decisão e a coragem;
7. A lógica matemática, o raciocínio analítico e sintético;
8. A criatividade;
9. A inteligência.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ministra mantém condenação de candidatos do RN por compra de votos

26 de maio de 2011 – 18h12

Do Site do TSE

A ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Cármen Lúcia Antunes Rocha determinou o arquivamento do recurso em que Flávio Vieira Veras e Erineide dos Santos Silva Veras solicitavam, entre outros pedidos, que fosse julgada improcedente denúncia apresentada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) que levou à condenação criminal e aplicação de multa aos dois, por compra de votos entre agosto e outubro de 2004.
Em razão da continuidade dos delitos, previstos no artigo 299 do Código Eleitoral, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE-RN) condenou Flávio Veras e Erineide Veras, respectivamente, a três anos e 10 meses de prisão e multa de R$ 10.400,00 e a um ano e dois meses de prisão e multa de R$ 6.500,00.
O artigo 299 do Código Eleitoral proíbe que alguém ofereça, prometa, solicite ou receba, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita.
Caso o TSE não acolhesse o pedido de improcedência da denúncia, Flávio Veras e Erineide Veras pediam a desconstituição do julgamento no TRE-RN, para a inclusão na denúncia dos nomes dos eleitores que teriam negociado seus votos. Ou ainda a substituição da pena de reclusão por restritiva de direito, a redução das punições ou a suspensão condicional do processo.
Em sua decisão, a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha negou todos os pedidos e determinou o arquivamento do recurso. Segundo a ministra, o TRE potiguar considerou suficientes as provas dos autos para caracterizar os delitos e a autoria e condenou os acusados pela conduta ilícita. A ministra destaca que, para alterar essa posição da corte regional, seria preciso reavaliar fatos e provas, o que não é permitido em via de recurso especial.
De acordo com a relatora, não é possível no processo substituir as penas privativas de liberdade por restritivas de direito, pois os acusados não preenchem os requisitos do artigo 44 do Código Penal para essa mudança. Além da já citada impossibilidade de reexame de fatos e provas em recurso especial.
Ao rejeitar a solicitação de redução da pena, a relatora afirma que o TRE-RN fixou a pena-base no mínimo legal, “motivo pelo qual não entendo cabível o pedido”. A ministra disse que a fundamentação do acórdão da corte regional mostra que a condenação não se baseou somente em prova testemunhal, conforme afirmaram os acusados.
Entende a ministra também que as multas estão de acordo com a capacidade econômica dos denunciados. Acrescenta a relatora, em sua decisão individual, que não se aplica ao processo o princípio da indivisibilidade da ação penal, por se tratar de ação penal pública incondicionada.
Rejeitou ainda a ministra Cármen Lúcia o pedido de desconstituição do julgamento no TRE. Segundo ela, o fato de o Ministério Público não denunciar os eleitores que teriam negociado seus votos, como pretendem os acusados, “não invalida a denúncia contra eles oferecida”. Diz a ministra que a opção do MPE em não denunciar todos os supostos envolvidos “não sacrificou” o direito dos acusados de exercer a ampla defesa.
De acordo com a ministra, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte também não cometeu qualquer irregularidade ao repetir a ementa do acórdão anulado em seu novo julgamento do caso. Houve a necessidade de novo julgamento porque o ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu provimento a recurso, determinando que o TRE potiguar realizasse um outro, observando desta vez a obrigatoriedade de defensor na sessão.
Por fim, ressalta a ministra que também é inviável o pedido para a suspensão condicional do processo, já que, devido à conduta delitiva continuada dos acusados, as penas impostas ultrapassam o limite previsto no artigo 89 da Lei nº 9.099/1995. A lei exige para isso pena mínima igual ou inferior a um ano.
EM/LF
Processo relacionado: Respe 35350

Espetáculo bisonho

Olhando da forma mais otimista, o resultado não foi tão ruim já que jogamos com um homem a menos toda a partida. Sim meu caro leitor o Flamengo entrou com dez em campo, pois o Thiago Neves não jogou e o Luxemburgo não escalou ninguém no lugar dele, mesmo tendo o Negueba no banco, aquele mesmo que infernizou o Williams, um dos melhores marcadores da atualidade, a ponto de levá-lo ao extremo descontrole e à expulsão. Mas foi expulso um do Bahia! Não igualou?! Não!! O Luxemburgo colocou o Fernando e continuamos em inferioridade, ou pior, se o TN nada fazia o cone no pouco tempo que ficou em campo agiu contra o patrimônio. Bola mesmo jogou o Galhardo, o Botinelle e, quem diria, o Egídio. Pelo plantel poderíamos ter vencido o Bahia, com o Diego Maurício titular teríamos mais mobilidade dando alternativa e sequência as assistências do R10, mas a má vontade em relação a prata da casa é irritante. Só um cego, ou um mal intencionado não vê que o Drogbinha entra e decide, fez um golaço contra o Avaí, numa tabelinha que o Vanderlei jamais faria com as suas limitações técnicas e ontem, fez aquela assistência depois de um drible seco sobre o zagueiro, que culminou no gol de Egídio. Mas mesmo assim segue na reserva. Ah! Aquela jogadazinha ensaiada do segundo gol do Bahia, que espetáculo bisonho. Um time cheio de bons cobradores pagar um mico estrondoso daquele. Para com isso Luxemburgo! Presidenta! Tá igual a político? Da boca pra fora é: valorizar a prata da casa, na prática são os meninos no banco, ou pior, nem no banco.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ivan Marques e os Demônios

Entrevista concedida pelo macauense saudosista empedernido Ivan Marques Bezerra Araújo, sobre a saga do bloco “Os Demônios” e a sua importância para história da cultura carnavalesca da cidade de Macau.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Brasil à venda. E há quem compre

Compartilho do site Adital

 

Quem costuma ir à feira, ao mercado ou ao supermercado para comprar alimentos sabe muito bem que eles têm subido de preços. A inflação começa a ficar fora de controle. O governo Dilma está consciente de que este é o seu calcanhar de Aquiles.

Os juros tendem a subir e a União anunciou um corte de R$ 50 bilhões no orçamento federal. (Espero que programas sociais, Saúde e Educação escapem da tesoura). Tudo para impedir que o dragão desperte e abocanhe o pouco que o brasileiro ganhou a mais de renda nos oito anos de governo Lula.

Lá fora, há uma crise financeira, uma hemorragia especulativa difícil de estancar. Grécia, Irlanda e Portugal andam de pires nas mãos. Na Europa, apenas a Alemanha tem crescimento significativo. Nos EUA, o índice de crescimento é pífio, três vezes inferior ao do Brasil.

Por que a alta do preço dos alimentos? Devido à crise financeira, os especuladores preferem, agora, aplicar seu dinheiro em algo mais seguro que papéis voláteis. Assim, investem em compra de terras.

Outro fator de alta dos preços dos alimentos é a expansão do agrocombustível. Mais terras para plantar vegetais que resultam em etanol, menos áreas para cultivar o que necessitamos no prato.

Produzem-se alimentos para quem pode comprá-los, e não para quem tem fome (é a lógica perversa do capitalismo). Agora se planta também o que serve para abastecer carros. O petróleo já não é tão abundante como outrora.

Nas grandes extensões latifundiárias adota-se a monocultura. Plantam-se soja, trigo, milho... para exportar. O Brasil tem, hoje, o maior rebanho do mundo e, no entanto, a carne virou artigo de luxo. Soma-se a isso o aumento dos preços dos fertilizantes e dos combustíveis, e a demanda por alimento na superpopulosa Ásia. Mais procura significa oferta mais cara. A China desbancou os EUA como principal parceiro comercial do Brasil.

Soma-se a essa conjuntura a desnacionalização do território brasileiro. Já não se pode comprar um país, como no período colonial. Ou melhor, pode, desde que de baixo para cima, pedaço a pedaço de suas terras.

Há décadas o Congresso está para estabelecer limites à compra de terras por estrangeiros. Enquanto nossos deputados e senadores engavetam projetos, o Brasil vai sendo literalmente comido pelo solo.

Em 2010, a NAI Commercial Properties, transnacional do ramo imobiliário, presente em 55 países, adquiriu no Brasil, para estrangeiros, 30 fazendas nos estados de GO, MT, SP, PR, BA e TO. Ao todo, 96 mil hectares! Muitas compradas por fundos de investimentos sediados fora do nosso país, como duas fazendas de Pedro Afonso, no Tocantins, somando 40 mil hectares, adquiridas por R$ 240 milhões. Pagou-se R$ 6 por hectare. Hoje, um hectare no estado de São Paulo vale de R$ 30 mil a R$ 40 mil. É mais negócio aplicar em terras que em ações da Bolsa.

Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), ano passado cerca de US$ 14 bilhões foram destinados, no mundo, a compras de terras para a agricultura. As brasileiras constaram do pacote. Estima-se que a NAI detenha no Brasil mais de 20% das áreas de commodities para a exportação.

O escritório da NAI no Brasil conta com cerca de 200 fundos de investimentos cadastrados, todos na fila para comprar terras brasileiras e destiná-las à produção agrícola.

O alimento é, hoje, a mais sofisticada arma de guerra. A maioria dos países gasta de 60 a 70% de seu orçamento na compra de alimentos. Não é à toa que grandes empresas alimentícias investem pesado na formação de oligopólios, culminando com as sementes transgênicas que tornam a lavoura dependente de duas ou três grandes empresas transnacionais.

O governo Lula falou muito em soberania alimentar. O de Dilma adota como lema "Brasil: país rico é país sem pobreza”. Para tornar reais tais anseios é preciso tomar medidas mais drásticas do que apertar o cinto das contas públicas.

Sem evitar a desnacionalização de nosso território (e, portanto, de nossa agricultura), promover a reforma agrária, priorizar a agricultura familiar e combater com rigor o desmatamento e o trabalho escravo, o Brasil parecerá despensa de fazenda colonial: o povo faminto na senzala, enquanto, lá fora, a Casa Grande se farta à mesa às nossas custas.

[Frei Betto é escritor, autor de "Comer como um frade – divinas receitas para quem sabe por que temos um céu na boca” (José Olympio), entre outros livros. www.freibetto.org - twitter:@freibetto
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].

“A guerra às drogas mostrou-se ineficiente”, afirma o presidente da Fiocruz

da Carta Capital

A face da política mundial anti-drogas

 

16 de maio de 2011 às 10:40h

A Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia produziu um relatório, liberado em abril, após 18 meses de debates, no qual conclui que a maconha é a droga ilícita com menor potencial nocivo à saúde. O documento, que deve ser entregue ao governo em julho, propõe uma forma alternativa de combate ao problema, visto que “alcançar um mundo sem drogas revelou-se um objetivo ilusório”.

A instituição, formada por especialistas de diversas áreas, como saúde, direito, jornalismo, segurança pública, atletas, movimentos sociais, entre outras, pede que se realize um “debate franco” sobre o tema e que seja discutida a regulação da produção da maconha para consumo próprio e a descriminalização do seu uso. O relatório cita ainda os exemplos de Espanha, Holanda e Portugal, que adotaram medidas semelhantes às indicadas pela Comissão.

A CartaCapital conversou sobre o relatório com o presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, o médico Paulo Gadelha, que defende a “despenalização” do usuário, ou seja, ainda há o crime, mas sem prisão como punição.

CartaCapital: O relatório propõe uma nova abordagem no combate às drogas. Qual seria a maneira mais adequada de lidar com o problema?
Paulo Gadelha: Uma constatação internacional é que a idéia da guerra às drogas como tema central do enfrentamento do problema se mostrou ineficiente. O que chamamos atenção é que, sem descuidar de aspectos importantes, como o campo da segurança, é preciso dar ênfase à abordagem pelo prisma da saúde pública. Há uma maneira de se aproximar do problema que não diferencia quem é o usuário, que tem sobre si os danos e as possibilidades de afetar a sua saúde, e o processo de produção e comercialização associado ao tráfico. A confusão entre esses dois aspectos gera muitas distorções. Ao lidar com evidências científicas para aferir quais são os danos à saúde, tanto das drogas lícitas quanto das ilícitas, é possível ter esse processo como uma referencia para educação, informação e capacitação das pessoas. Desta forma, estas podem estar em condições de, ao lidar com o risco, amenizar os danos à sua saúde. Se não tivermos uma nova abordagem vamos deixar de lidar com a questão central, que é cuidar e permitir que as pessoas tenham a preservação da sua saúde. A maneira como as drogas ilícitas são abordadas cria barreiras, tabus e descriminação a quem procura tratamento. Quando se tem essa forma de penalização criminal, a própria pessoa que precisa de ajuda sente-se tolida e com dificuldades de colocar o seu problema em um espaço público.

CC: Como o senhor acredita que a descriminalização ajudaria no combate ao tráfico e crime?
PG:
Lidamos com a questão de três maneiras diferentes. Uma coisa é a descriminalização, a despenalização e a legalização. Não está sendo proposto legalizar as drogas ilícitas, estas continuarão sendo ilegais, mas a comissão pede a despenalização. Continua sendo crime, mas não há o aprisionamento para o usuário, que se submeteria ao tratamento e a penas alternativas. Essa diferença é importante, o que é difícil transmitir para a população. A Comissão tem uma postura muito clara de que o tráfico, circuito de armas e a dominação de território deveriam ter suas penas agravadas. Radicalização ao trafico, mas tratar o usuário sob outros parâmetros.

CC: Como o senhor avalia a lei antidrogas brasileira em vigor?
PG: A lei antidrogas tem aspectos que são importantes e avançam com relação ao passado, mas gera também ambiguidades. Diz que o usuário tem uma forma diferenciada de ser tratado, mas não especifica o que é considerado uso ou tráfico em termos de quantidade. Na medida em que não há essa normatização, tudo que for apreendido em flagrante com qualquer pessoa fica sob o arbítrio das autoridades judiciárias e policiais. Estas vão determinar se o que se está portando é para uso próprio ou tráfico. Com isso, cria-se uma distorção imensa na forma de abordar o problema. Isto leva a um efeito, percebido por pesquisas, que coloca nas prisões réus primários, encarcerados portando pequenas quantidades de droga e sem relação com o tráfico, que acabam sendo iniciados no crime pela prisão.

CC: A maconha é vista como a droga ilícita com efeitos menos prejudiciais à saúde. Mas isso não significa que o seu consumo não faça mal. Quais problemas o uso desta substância pode causar? É possível fazer uma comparação entre os danos causados pelo álcool e a maconha?
PG: A maconha tem riscos à saúde, podendo exacerbar surtos psicóticos e alterar o ponto de vista comportamental. As drogas lícitas também apresentam efeitos danosos significativos, como o alcoolismo, problema central hoje no Brasil. O país lidera o ranking de consumo de álcool nas Américas, com aproximadamente 18% da população que usa a substância em excesso. O álcool traz problemas de memória, cardiovasculares, afeta a socialização e aumenta o risco de violência sofrida ou cometida.

CC: O senhor acredita que a descriminalização poderia incentivar o consumo da maconha, ou campanhas de educação como as do cigarro seriam suficientes para evitar que isso aconteça?
PG: As experiências internacionais são diversas, em Portugal houve redução do consumo, ao contrário da Holanda. Não podemos ter uma relação automática e simplista entre a descriminalização e a redução. Não se trata de jogar toda a ênfase na criminalização, falamos de uma abordagem ampla, que envolve questões ligadas à educação, informação sobre as drogas e como o sistema de saúde acolhe o dependente. Não é uma bala mágica, isolada, é uma política em geral que inclui também o combate ao tráfico.

CC: A Comissão cita o exemplo de países que descriminalizaram o uso da maconha, como Portugal e Espanha. Porém, estes locais adotaram políticas de apoio ao usuário, para evitar danos a sua saúde, como tratamentos psicológicos e de desintoxicação. O Brasil teria condições de oferecer e manter esses serviços?
PG: É preciso enfatizar que essas condições têm que ser construídas já. O Ministério da Saúde está com muita clareza em relação à necessidade do Sistema Único de Saúde em oferecer de maneira acolhedora esse tratamento, que está muito aquém da nossa necessidade atual. O fato dessa necessidade no sistema de saúde independe da descriminalização, pois as pessoas estão precisando de tratamento agora.

CC: No caso da produção para consumo, como controlá-la e evitar que não seja destinada ao comércio?
PG: A lei prevê a produção para consumo, mas não estabelece ou limita a quantidade que seria compatível, logo, essas definições são necessárias. Mas é evidente que alguém que planta para consumo não o faz em atacado.

Gabriel Bonis

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Orgulho de ser Rubro-Negro

 

Foi a melhor partida do Flamengo em toda temporada. Até a injusta expulsão do Angeli jogávamos melhor demonstrando a devida superioridade, Luxemburgo finalmente valorizou o bom futebol e escalou a nossa configuração mais técnica. Botineli e Renato supriam os nossos excelentes meias atacantes e estes responderam a altura, a presença do Angeli deu segurança a defesa e apoio ao William na proteção da zaga. Estamos, de fato, no caminho certo. A determinação demonstrada durante todo o jogo honrou o manto sagrado, e apesar da desclassificação estou orgulhoso de ser Flamenguista. Quanto a escolha do Vanderlei para o ataque é a opção do técnico, e ele dá o sangue, mas as vezes não basta. Espero que seja dada ao Diego Maurício a oportunidade de jogar com a mesma escalação, o que ainda não aconteceu. Creio que municiado por essa atual configuração o Drogbinha seja o mais completo, seleção Sub20 entre Lucas e Neymar, não tem no Fla o tratamento que o pereba Deivi teve, e é prata da casa.

Para o campeonato brasileiro precisaremos de reforços, o setor mais carente é a lateral esquerda, Egídio e Alvim não disseram a que vieram, mas não  para por aí, precisamos de peças de reposição.  O escrete desclassificado pelo Ceará é de boa qualidade, foi um acidente agravado pelo erro da arbitragem, mas não temos reservas a altura, salvo honrosas excessões como o garoto Galhardo e a escolha entre Vanderlei e Diego Maurício. Que faremos sem William?Ou sem Tiago Neves ou Ronaldinho Gaúcho? Busquemos soluções e as repatriações Rubro-Negras é o caminho. Ibson, Felipe Melo, Vágner Love, Juan, Renato Augusto. Sonhar não é proibido.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O desafio é do tamanho da Nação.

A necessidade de vencer marcando pelo menos dois gols, parece ter acordado o Luxa para o óbvio. A forma como o time vinha jogando, venceu sem convencer e, na maioria das vezes, de maneira sofrível. Diante de um desafio do tamanho da nação, acordou para a responsabilidade, tem que escalar o que tem de melhor e da melhor maneira possível.

Todos os torcedores mais atentos indicaram que o atacante Deivi não é a melhor a opção; é o Diego Maurício, tão forte quanto o Vanderley, é mais rápido e mais habilidoso. O Alvim não resolveu e em nenhum momento foi melhor que o Egídio que também não resolve, trocou seis por meia dúzia. O Angeli como terceiro zagueiro, não como lateral-esquerdo, trará a experiência e a segurança que ainda falta, dando suporte ao Renato Abreu jogar como volante caindo pela esquerda, melhorando o primeiro passe e sendo uma alternativa de arremate de longa e média distância, o que ele fez muito bem quando assim foi acionado. A definição do Dario Botineli como titular e um dos principais articuladores do meio-campo, dando moral e referência a esse excelente jogador deverá aumentar a posse de bola e melhorar a integração dos nossos meias ofensivos que não mais dependerão de bolas rifadas e poderão finalmente apresentar o seu melhor futebol. E finalmente explorar o que temos de melhor, o apoio do Leo Moura pela direita e o contra-ataque originado pelas roubadas do Wiliam, que só se concretizarão se a bola chegar redonda ao ataque, o que Botineli terá a responsabilidade de fazer. No mais, garra, determinação e respeito ao manto sagrado. Temos time para vencer, talvez não tenhamos técnico.

sábado, 23 de abril de 2011

Lançamento nacional da Campanha será no dia 25/04, em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Campo Grande

Reproduzo post do Site da Campanha

A banda larga no Brasil é cara, lenta e para poucos, e está na hora de pressionar o poder público e as empresas para essa situação mudar. O lançamento do Plano Nacional de Banda Larga em 2010 foi um passo importante na tarefa necessária de democratizar o acesso à internet, mas é insuficiente. O modelo de prestação do serviço no Brasil faz com que as empresas não tenham obrigações de universalização. Elas ofertam o serviço nas áreas lucrativas e cobram preços impeditivos para a população de baixa renda e de localidades fora dos grandes centros urbanos.

Enquanto isso, prefeituras que tentam ampliar o acesso em seus municípios esbarram nos altos custos de conexão às grandes redes. Provedores sem fins lucrativos que tentam prover o serviço são impedidos pela legislação. Cidadãos que compartilham sua conexão são multados pela Anatel.

É preciso pensar a banda larga como um serviço essencial. A internet é instrumento de efetivação de direitos fundamentais e de desenvolvimento, além de espaço da expressão das diferentes opiniões e manifestações culturais brasileiras por meio da rede.

Neste dia 25, vamos colocar o bloco na rua: juntar blogueiros, ativistas da cultura digital, entidades de defesa do consumidor, sindicatos e centrais sindicais, ONGs, coletivos, usuários com ou sem internet em casa, todos aqueles que acham que o acesso à internet deveria ser entendido como um direito fundamental. Nossa proposta é unir os cidadãos e cidadãs brasileiros em uma vigília permanente em defesa do interesse público na implementação do Plano Nacional de Banda Larga e da participação da sociedade civil nas decisões que estão sendo tomadas.

O lançamento nacional da Campanha Banda Larga é um Direito Seu! Uma ação pela Internet barata, de qualidade e para todos será feito em plenárias simultâneas em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília, com transmissão por este site. O manifesto da campanha, a lista de participantes e o plano de ação também podem ser vistos aqui. Participe!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

ALÔ ALÔ, REALENGO!

Reproduzo texto de José Ribamar Bessa Freire – Diário do Amazonas, de 10/04/2011

publicado no blog Evidentemente

Não tinha amigos, não batia papo nem contava piada, nunca namorou, jamais lhe deram um cheiro no cangote ou alisaram sua mão, nunca transou, não torcia por time algum, nunca foi ao Maracanã, não xingou juiz de ladrão, de sua garganta jamais saiu um grito apaixonado de gol, não desfilou em qualquer bloco de carnaval. Passava o tempo na internet, em jogos eletrônicos, mas nunca recebeu um aviso no facebook solicitando: “me adicione como amigo”.
Esse filme a gente já viu. Ele é americano. Surge, agora, uma produção brasileira, um compacto que mistura roteiros das várias versões importadas dos Estados Unidos. Aqui o cenário foi uma escola em Realengo, no subúrbio carioca. O personagem principal invadiu a escola, executou friamente doze alunos e feriu mais de dez. Foram importados dos Estados Unidos seu nome – Wellington - e os dois apelidos -Sherman e depois Suingue, botados pelos colegas.
O primeiro foi inspirado na figura nerd de Chuck Sherman, “the Sherminator”, do filme American Pie. O segundo, no seu jeito desajeitado de caminhar, causado por uma perna ligeiramente menor que a outra, que produz um balanço, um ‘suingue’, no dizer debochado dos colegas. Na versão americana de Ohio, o aluno H. Coon, que entrou na escola e atirou em quatro colegas antes de se suicidar, também mancava e ficou conhecido pelo apelido de Deixa-que-eu-chuto.
A história de Wellington começa a ser contada, aos fragmentos, por colegas, vizinhos e irmãos adotivos entrevistados pela mídia, com registros esparsos sobre seu nascimento e sua passagem pelo mundo da família, da escola e do trabalho. Aliás, ele não nasceu, foi excluído do ventre de sua mãe - uma moradora de rua com problemas mentais.
Precisa de carinho

Na escola, usava calças com cós acima da cintura e meias até os joelhos. A menina mais bonita da turma se jogava em cima dele, fingindo assediá-lo, só pra sacanear. Ganhou fama de homossexual. Não reagia às agressões, à semelhança do estudante de origem sul-coreana, nos Estados Unidos, Cho Seung-hui, que matou 32 pessoas na Universidade de Virginia e deixou uma carta dizendo ter sido discriminado como um bicho: “eu morro como Jesus Cristo, para inspirar gerações de pessoas fracas e indefesas”.
Seguindo o modelo americano, Wellington também escreveu uma carta, “rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte”. Nela, deixou um testamento, legando sua casa para alguma instituição encarregada de cuidar dos animais abandonados, “pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar”.

Wellington não tinha o poder de se comunicar. “Mal ouvíamos a voz dele, vivia no mundo dele – contou uma vizinha. “Era muito calado, muito fechado e a galera pegava muito no pé dele, mas não a ponto de ele fazer isso – disse seu ex-colega Bruno Linhares, 23 anos, se referindo ao massacre. Precisava de proteção e carinho?
Outros colegas admitiram que o rapaz foi vítima de ‘bullying’ na Escola Municipal Tasso da Silveira, onde estudou de 1999 a 2002, quando sofreu constantes intimidações. “Além de tudo, ele ainda tirava notas baixas” – completou Bruno. No 8º ano, ficou em recuperação em quase todas as matérias.
A gente chorou muito pensando que Wellington matou aquelas 12 crianças em represália pelo que aconteceu com ele quando nós estudávamos juntos” – contou Thiago da Cruz, outro ex-colega, que usou o adjetivo assustador para se referir ao bullying e à chacota a que Wellington foi submetido. Em entrevista à Folha, reconheceu que não suspeitava do dano que cometeram e acrescentou chorando: “Não era para ninguém ter pago por uma coisa que nós fizemos”.
Ele era tímido e calado” – confirmou ao Globo o gerente da fábrica de alimentos Rica, sediada em Jacarepaguá, adiantando que Wellington permaneceu silencioso o tempo todo numa dinâmica de grupo realizada na firma, onde trabalhou durante dois anos como auxiliar de almoxarifado. A indústria, que abate 170.000 aves por dia e aloja cerca de 46 milhões de pintos, considerou “baixa” a produtividade dele.
Por isso, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, foi excluído do trabalho, demitido em agosto de 2010. Ficou desempregado. Depois da morte da mãe adotiva, passou a morar sozinho mergulhado na mais extrema solidão. Não foi apurado ainda com que recursos ele sobreviveu nos últimos meses.
Nessa quinta-feira, 7 de abril, vestido de preto e com duas armas, como o menino de Ohio, Wellington voltou ao local do crime - a escola onde estudou - para acabar com aquilo que o molestara. Incorporou o apelido de “the Sherminator”, encurralou e executou 12 crianças, feriu outras 13, quase todas mulheres, num banho de sangue nunca visto numa escola brasileira. Depois, ferido, se suicidou com um tiro na boca.
Escola de merda
Errou o alvo. Atirou no que viu e matou o que não viu. Ceifou os sonhos de Larissa,14 anos, que queria ser modelo; de Bianca, a gêmea de 13 anos, que gostava de navegar na internet; de Mariana, 12 anos, o xodó da família, que adorava tirar fotografias; de Géssica, 15 anos, uma menina alegre que havia feito planos de estudar na Marinha; de Igor que gostava de futebol, torcia pelo Flamengo e jogava na Escolinha do Vasco. E de tantas outras adolescentes sonhadores.
Ela morreu naquela escola de merda” gritava dentro do hospital dona Suely, mãe de Géssica. Familiares e amigos ficaram imersos no desespero, na revolta, na dor e na perplexidade. Como foi possível isso acontecer? Podíamos ter evitado? Como?
- “Poderia ter sido um de nós, um de nossos filhos” – escreveu uma leitora do Globo, sem atentar que foram doze de nós, doze de nossos filhos. Por isso é que o Brasil inteiro se sentiu ferido com os tiros disparados por Wellington, que atingiu a todos nós, embora com intensidade diferente.
O presidente do Senado, José Sarney, sempre ‘brilhante’, sugeriu que “o governo deve, a partir desse episódio, reforçar a segurança dentro das escolas brasileiras e até mesmo incluir no currículo um item chamado segurança”. Outras sugestões foram feitas: instalação de câmeras, detectores de metal, catracas, guaritas, porteiros armados. Por que não canhões? Ou fossos ao redor como nos castelos feudais? Isolar a escola da comunidade onde está encravada é alguma garantia de segurança?
A prefeitura do Rio chegou a iniciar, em novembro do ano passado, a contratação de porteiros para as escolas, mas houve denúncias de que as vagas estavam sendo loteadas através de indicação política, naquele modelo que o Sarney gosta, usa e abusa. Suspenderam as contratações e abriram uma CPI.
O governador Sérgio Cabral, ainda desorientado, diagnosticou o assassino como “psicopata”, como um “animal”, reforçando as palavras de Sarney para quem Wellington é “um fanático”, “um fronteiriço, possesso – esta é a palavra – entre a loucura e a maldade”. O diagnóstico dos dois configura ‘exercício ilegal da profissão’.
Quem produziu Wellington? Por que um espetáculo tão macabro, no qual todos somos perdedores? Se não procurarmos responder essa pergunta, outros Wellingtons surgirão, tirando o gostinho dos Bolsonaros por seu linchamento, já que se suicidou. O diabo é que estamos todos perplexos, confusos. Quem diz que sabe o porquê do acontecido, sinalizando um único fator como a causa de tudo, comete um erro. Uma certeza nós temos: nem o presidente do Senado nem o governador sabem o que dizem.
No meio de tanta dor, não temos ainda a grandeza sequer de dizer: Descansa em paz, Wellington. Desconfio que além das pessoas tocadas de perto pela tragédia, precisamos todos, os 180 milhões de brasileiros, de assistência psicológica. Enquanto isso, só nos resta fazer como os familiares das crianças assassinadas e os moradores de Realengo que nesse sábado deram um enorme abraço na Escola Tasso da Silveira.
Alô, Alô, Realengo, aquele abraço solidário e aquele cheiro no cangote que Wellington nunca recebeu, levando consigo três fiapos de humanidade: o beijo na testa da professora de literatura, a preocupação com os animais desamparados e a retirada de um aluno de sua mira: “fica frio, gordinho, que eu não vou te matar”.
(Este artigo me foi enviado, através de e-mail, pelo colega baiano Otto Filgueiras, que vive em São Paulo há muitos anos. Não é bem o foco do meu blog, mas publico por achá-lo interessante e originalíssimo).

terça-feira, 5 de abril de 2011

I Encontro Estadual dos Blogueiros Progressistas RN

Foto: Daniel Dantas

 

Car@s,

Após os três dias de Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas, na plenária final, foram aprovadas algumas alterações da Carta de Blogueiros Progressistas de Natal.  Submetemos a carta agora à coletividade e aguardamos as devidas observações que julguem necessário.  Na sexta-feira, meio-dia, ela será considerada aprovada.

Caso você tenha alguma moção a propor em nome do movimento, essa é a hora de fazer a proposição.  Consolidaremos todas as informações até a sexta-feira.

O Encontro alcançou em seu conteúdo aquilo que era a nossa expectativa.  Os debates foram ricos e podem ser acompanhados neste espaço: http://www.ustream.tv/channel/blogueirosprogressistasrn.  Além disso, a prestação de contas foi publicada neste post: http://blogprogressistasrn.com/2011/04/03/relatorio-financeiro/.

Apresentamos as seguintes propostas para a coletividade, que serão implementadas em caso de concordância de parte considerável do grupo inteiro:

1) Realização, em abril, de debate sobre liberdade de expressão e blogosfera potiguar, enfatizando as perseguições sofridas por parte de representantes do poder público.  A ideia é convidar Ailton Medeiros, Carlos Santos, entre outros, para partilhar experiências e promover o debate.

2) Apoiar a realização e a ida de blogueiros potiguares para o segundo encontro nacional em Brasília.

3) Participar em debates on-line, por meio da ferramenta Tinychat, de temas do interesse da cidade.

4) Realizar no segundo semestre uma série de debates presenciais sobre os temas da cidade do Natal.

Para realizar tudo isso, entendemos que é fundamental organizar uma representação do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.  Assim, estaremos convidando, ainda esta semana, os interessados em organizar o Barão de Itararé local e organizar os eventos subsequentes, para um bate-papo aberto.

A seguir, a carta:

Carta de Natal

“A blogosfera é muito diversa e é difícil encontrar dois blogueiros que concordem absolutamente sobre um único tema. Quem imagina que os 200 blogueiros já inscritos ao Encontro vão se submeter a algum tipo de controle decididamente não conhece a blogosfera”

1º Encontro Nacional de Blogueiros

No espírito alcançado pelos “pioneiros” que se reuniram em São Paulo em agosto de 2010, nós, blogueiras, blogueiros, tuiteiros, tuiteiras do Rio Grande do Norte, identificados com as lutas pela democratização da mídia e contra o controle e censura pelo poder econômico do acesso à informação, nos encontramos em Natal entre os dias 1 e 3 de abril de 2011.

O principal objetivo de nosso encontro foi criar e fortalecer uma teia de participantes e militantes nas redes sociais que possa subsidiar discussões e ações práticas na direção de uma sociedade mais democrática e de uma cidade, estado e nação melhores, com maior participação dos cidadãos e uma resolução mais aprofundada de nossas demandas históricas.

Por isso, debatemos e propusemos, ao fim do nosso primeiro Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas do Rio Grande do Norte, os seguintes compromissos:

  1. Assumimos o compromisso de participar ativamente do debate acerca do desenvolvimento social, econômico, ambiental das cidades e do estado do Rio Grande do Norte, contribuindo na elaboração de políticas e ações públicas por parte da sociedade.
  2. Assumimos o compromisso de apoiar todas as iniciativas que tenham como objetivo buscar envolver novos adeptos das novas tecnologias, democratizando o acesso à Internet através da valorização de espaços coletivos de acesso gratuitos (cafés, shoppings, praças, universidades, etc.), defendendo que as instituições públicas permitam o acesso pleno às redes sociais como forma de democratizar o conhecimento e a informação.  Apoiamos as lutas pela inclusão digital, inclusive de movimentos como a Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital, conhecida pela sua defesa das lan houses.
  3. Assumimos o compromisso de apoiar e difundir as resoluções da 1º Conferência Nacional de Comunicação (1ª Confecom) e cobrar do Governo Federal a realização da 2º Conferência como formar de pautar a sociedade potiguar e brasileira sobre o debate da comunicação social.
  4. Assumimos o compromisso de continuar a provocar novas pautas e tomar iniciativas que coloquem temas do interesse da sociedade brasileira e potiguar no cenário público, seja no mundo virtual, seja nas praças e ruas do estado.
  5. Assumimos o compromisso de defender que os recursos públicos destinados à propaganda institucional devam ser democratizados, não levando em consideração a linha editorial do veículo que busque o financiamento, bem como defender e valorizar as novas mídias junto ao bolo total de verba destinada à publicidade institucional.
  6. Assumimos o compromisso de defender o fortalecimento das ações de controle social dos poderes públicos a partir da valorização dos Conselhos Setoriais e de Direitos, incluindo nesse ponto a luta pelo estabelecimento de Conselhos de Comunicação Social no estado e nos municípios.
  7. Assumimos o compromisso de defender a valorização dos meios de comunicação social públicos, como as TV´s Assembleia, Câmara de Natal, TV Universitária e FM Universitária como espaços de difusão da informação pública, denunciando o aparelhamento destes veículos para projetos pessoais, políticos e partidários.
  8. Assumimos o compromisso de defender a essência da finalidade das rádios comunitárias e denunciar o seu aparelhamento com objetivos partidários e pessoais.
  9. Assumimos o compromisso de lutar pelo estabelecimento de políticas públicas claras e efetivas acerca das tevês comunitárias, ressaltando seu papel no fomento à produção livre e popular de conteúdo e à democratização da informação no país.
  10. Assumimos o compromisso de defender a revogação, no âmbito do Ministério da Cultura, de todas as políticas que significaram retrocesso frente à gestão anterior, especialmente no que se refere à revisão da legislação acerca de direitos autorais no país, marcada simbolicamente pela retirada das licenças Creative Commons dos sites do ministério. Além disso, defendemos o fortalecimento da gestão participativa da cultura no país, incluindo aí a ampliação da política de editais e dos Pontos de Cultura.
  11. Assumimos o compromisso e convocamos as lideranças e personalidades públicas do nosso estado (pesquisadores, empresários, sindicalistas, estudantes, políticos, etc) a se engajarem numa campanha pela democratização da banda larga com a implementação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e a lutarem pela regulamentação dos Artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal, que legislam sobre a comunicação no Brasil e proíbem a concentração dos meios de comunicação.
  12. Assumimos o compromisso de buscar relações e desenvolver atividades em parceria com os movimentos defensores do software livre. 
  13. Assumimos o compromisso de apoiar e difundir políticas públicas que estimulem o fortalecimento das redes sociais digitais como fóruns importantes de debate, de formação de opinião pública e diversidade informativa.
  14. Assumimos o compromisso de nos inserirmos no debate pelo projeto do marco regulatório da Comunicação Social, apoiando e difundindo a Ação Direta de Omissão (ADO) do Parlamento na regulamentação da comunicação social apresentada pelo jurista Fábio Konder Comparato.
  15. Assumimos o compromisso de participar ativamente da construção da Coordenação de Movimentos Sociais (CMS) no Rio Grande do Norte, formada pela UNE, UBES, CTB, CUT, Conam, MST, entre outras instituições e movimentos.
  16. Assumimos o compromisso de defender que os recursos do Pré-Sal sejam aplicados na educação como mais um canal de financiamento de políticas públicas que visem democratizar o acesso à informação, cultura e educação.
  17. Assumimos o compromisso de apoiar a construção da Frente Parlamentar pela Democratização da Comunicação que visa promover, acompanhar e defender iniciativas que ampliem o exercício do direito humano à liberdade de expressão e do direito à comunicação no Brasil, cobrando da bancada federal do Rio Grande do Norte a sua adesão.
  18. Assumimos o compromisso de desenvolver uma rede articulada que denuncie toda e qualquer ameaça à liberdade de expressão, contra qualquer tipo de censura e perseguição. Denunciar o macartismo contemporâneo desenvolvido no Rio Grande do Norte, exercido através da perseguição sistemática, por parte de autoridades políticas, a jornalistas, tuiteiros e blogueiros que ousam criticar seus feitos e ações públicas no exercício do poder. Assim como também combater iniciativas que cerceiam a liberdade de expressão na Internet, como no caso do projeto de lei conhecido como “AI-5 digital”.
  19. Assumimos o compromisso de construir uma rede de comunicadores dos movimentos sociais onde poderemos construir eventos voltados para a formação e valorização da blogosfera, buscando sempre que possível, parcerias com Universidades, Faculdades e Escolas de Comunicação na organização de atividades que promovam a formação cidadã dos futuros profissionais da comunicação social.

Ao fim deste encontro, comprometemo-nos, também, em contribuir para o estabelecimento de núcleos municipais e regionais de blogueiros e tuiteiros progressistas, além de apoiar à realização do segundo encontro nacional, em junho, na cidade de Brasília.

Pleiteamos, por fim, a formação de um núcleo local do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé no RN.

Natal, 03 de abril de 2011.

Moções


Solidarizamo-nos com todas as vítimas do episódio do Blog do Paulo Doido, em Mossoró, que sofreram retaliações por se prestarem ao papel de críticos constantes dos erros e abusos da gestão municipal de Mossoró.  Pedimos ao Ministério Público e ao Judiciário que o caso seja investigado e os culpados sejam exemplarmente punidos.

Repudiamos a maneira desonesta em que, nas redes sociais e imprensa em geral, a gestão municipal em Natal tentou aferir capital político junto ao movimento estudantil, contribuindo para a distorção do sentido da Jornada Nacional de Lutas e transformando a interpretação da grande passeata do último dia 31 de março em uma "passeata do bem" e em agradecimento à prefeita Micarla de Sousa, o que não era verdade.

No último dia 2 de abril o jornalista e radialista J. Gomes estaria completando aniversário caso não tivesse sido brutalmente assassinado.  Defendemos uma investigação isenta e ampla do caso, com o julgamento e condenação exemplar dos culpados.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Discriminar pessoas não é um direito

Reproduzo do Blog da Cidadania

O enunciado contido no título deste texto deveria ser um truísmo, verdade incontestável ou evidente por si mesma, coisa tão óbvia que não precisa ser mencionada, uma banalidade, uma obviedade. Mas, espantosamente, não é. Discriminar ainda é visto – e vendido – por alguns como um “direito”, ou, como gostam de dizer, “liberdade de expressão”.

Discriminar pessoas, porém, não é e jamais será um direito. Dá para discordar de premissa tão evidentemente legítima? Não são muitos, os que discordam. Mas existem e têm muito espaço para dizerem suas “idéias” por terem representantes de peso do ponto de vista de que discriminar seria “direito” ou “liberdade” de algum tipo.

Ninguém assume que discrimina outras pessoas, claro. A imagem do discriminador é negativa, de alguém intolerante e estúpido. As acepções do verbo discriminar, porém, quando analisadas, permitem enquadrar a todos aqueles que juram que não estão discriminando quando agem da forma que tais acepções detalham.

Discriminar é um verbo transitivo. Portanto, pede paciente da ação discriminatória. Segundo o dicionário Houaiss, é perceber diferenças, distinguir, discernir. Mas não só. É, também, colocar alguém ou alguma coisa à parte por algum critério para especificar, classificar, listar.

E a amplitude da discriminação não pára por aí. Discriminar é não (se) misturar, é formar grupo à parte dos portadores de alguma característica étnica, cultural, religiosa etc., vedando sua presença em meios sociais e locais pré-especificados.

O recente episódio envolvendo o deputado Jair Bolsonaro em mais uma agressão à sociedade, agressão essa igual a todas aquelas que freqüentemente atira,  deixa ver em que a discriminação se traveste de forma a cumprir suas características intrínsecas.

Os insultos de Bolsonaro a Preta Gil, por exemplo, a discriminaram pela cor da pele e por uma sua suposta preferência sexual. Como a lei brasileira só criminaliza a discriminação por etnia, mas não criminaliza discriminação por ideologia, o deputado racista e homofóbico refugiou-se na homofobia.

Esse tipo de comportamento se deve a três coisas que o deputado não entende: a natureza do ato de discriminar, o fato de que discriminar homossexuais tem um nome, homofobia, e a natureza da homossexualidade.

Toda vez em que você critica pessoas publicamente por suas características intrínsecas, tais como cor da pele, origem geográfica, crença religiosa ou comportamento sexual, entre outros, está, sim, discriminando, pondo à parte e condenando pessoas por uma faceta delas que não têm como mudar.

Quem se sente agredido pela forma como uma pessoa se satisfaz afetiva e sexualmente e se julga no direito de exortar outras pessoas a agirem da mesma forma, tem uma qualificação: homofóbico.

Fobia a homossexuais. Fobia, mais uma vez de acordo com o dicionário, é aversão insuportável, para simplificar. Pode ser patológica, mas não necessariamente. Em geral, é um aspecto cultural do indivíduo que se deve ao meio social em que nasceu e cresceu. Ou desejo inconsciente.

Já a natureza do comportamento homoafetivo, essa é a parte que menos entende gente como Bolsonaro ou um Reinaldo Azevedo e outros “formadores de opinião” que vivem pregando o “direito” de discriminar homossexuais por palavras e atos públicos.

Um homossexual não pode mudar sua natureza tanto quanto um negro não pode mudar de pele, mesmo que quisessem. A atração pelo mesmo sexo independe da vontade. Homossexuais percebem suas tendências ainda na infância.

A homossexualidade é tão natural nos seres vivos que entre os animais irracionais ela ocorre intensamente. Os símios, por exemplo, praticam homossexualismo. E não é por falta de “porrada”, como pensa o inculto deputado do PP fluminense.

Comentário de um leitor que vetei, mas que não deletei porque pode exemplificar a desinformação dos que crêem no “direito” de discriminar,  permite mostrar a natureza dessa ideologia bizarra. O nome da pessoa, aliás, não importa. Há muitos outros iguais. Vale tampar o nariz e ler, para entender o que essas pessoas pensam:

Só vou acreditar nessa raivinha toda se um dia processarem um preto que falou mal de branco ou quando um branco puder lançar uma revista com o nome de Raça Branca, uma banda Brancura Junior ou andar com camiseta 100% Branco sem ser importunado.

Aliás, deveriam explicar por que a maioria dos pretos, quando sobe na vida, casa com brancas, por que a obsessão nacional com as louras e por que a África não vai para a frente.

Deveriam, mas não podem, porque o verdadeiro debate racial está interditado pelos fricotes da claque politicamente correta como a que abunda aqui.

O mesmo vale para os veados e sapatorras: eles podem esculhambar impunemente as instituições tradicionais, mas não podem ser minimamente criticados.

E Bolsonaro está certissimo quanto ao regime militar: tinha-se mais autoridade, mais progresso e mais segurança (menos para a esquerdalha tirânica que queria implantar a força o comunismo aqui, claro).

E, verdade também, os presidentes miilitares serviram ao país e não enriqueceram, como os que vieram depois (exceto Itamar).

Já a Preta Gil, bem , sem comentários…Viva Bolsonaro, um dos poucos que ousam dizem a verdade na era da ditadura do politicamente correto!

Tente controlar a repulsa. Analise o que essa pessoa não entende, e que é o seguinte:

1 – Falar mal de branco também é crime. O que a lei tipifica é a discriminação por etnia, não só pela etnia negra. Mas discriminar branco não é tão combatido porque brancos não foram escravizados.

2 – Não há estatísticas sobre ser a “maioria” dos “pretos” que se une a “brancas”, mas mesmo se for verdade isso decorre da estigmatização dos negros, associados ao insucesso pela situação de penúria que o racismo lhes produz.

3 – A África negra – que foi aquela à qual o comentarista quis se referir – vai para frente, sim. Está indo. Não foi antes porque foi saqueada pelos brancos.

4 – Debate racial é racismo, um crime, uma perversão que quer discutir a cor da pele das pessoas, tornando alguns seres humanos inferiores a outros.

5 – Os “veados e sapatorras” a que esse infeliz se refere não “esculhambam” nada, apenas exercem o direito de se relacionarem sexual e afetivamente com quem bem entenderem. Querer escolher o que devem sentir em termos de desejo e paixão, é uma barbaridade.

6 – Ninguém passa a gostar de jiló por ver alguém comendo jiló. As escolhas gastronômicas, em alguma medida, explicam por que uns gostam de pessoas do sexo oposto e outros, de pessoas do mesmo sexo.

O resto do que o indivíduo diz, é direito dele. Se gostou da ditadura, é a opinião política dele e tem o direito de dizê-la, assim como qualquer um tem direito de discordar. Deve-se, aliás, debater esse assunto, mas essa é outra discussão.

O resumo de tudo é que não se pode confundir apologia aos crimes de racismo e de homofobia (que é crime mesmo não sendo assim tipificada em lei, ainda) com liberdade de expressão. Enquanto a sociedade brasileira permitir que até um deputado cometa tais crimes, continuaremos a ser um país ainda incivilizado.

A opinião pública, entre o velho e o novo

Reproduzo do Blog de Emir do Site Carta Maior

A decadência irreversível da velha mídia e o surpreendente surgimento
de novas modalidades de formação democrática da opinião pública

Atribuem à internet – sua velocidade, seu caráter interativo, sua “irresponsabilidade” (“Qualquer um pode escrever...”, tipo Cansei) – a decadência da imprensa escrita. Claro que isso tem parte da verdade. Quem lê no dia seguinte o que já tinha ido na internet no dia anterior – às vezes lê nos jornais 2 dias depois de ter lido na internet -, tem uma sensação de tempo perdido, de notícia requentada, de um mundo superado pela rapidez virtual.
Além de que a internet, nas suas distintas modalidades, supera um dos problemas que permitiu o monopólio privado de algumas famílias, que pretendiam ser donas da formação da opinião pública, porque o investimento necessário para publicar um jornal ou uma revista é muito grande, enquanto que na internet é bastante pequeno ou quase nenhum.
A internet tornou-se assim um forte instrumento de democratização na circulação de informações, rompendo a fonte única e homogeneizadora das agências, assim como na interpretação dos fatos. A agenda nacional passa a ser disputada à velha mídia pelas novas formas, pluralistas, de expressão midiática, na internet.
Mas a razão de fundo da decadência irreversível da velha mídia está na sua falta total de credibilidade. A ponto de que atacaram implacavelmente o governo Lula e chegaram ao final de 8 anos com apenas 4% de rejeição do governo e 87% de apoio, o que vale também para medir a capacidade de influência da velha mídia sobre o povo brasileiro.
O melhor sintoma da decadência irreversível da imprensa escrita está na ausência dos jovens entre seus leitores, projetando a desaparição dessa modalidade de imprensa em um futuro não muito distante – porque se tornará inviável economicamente, depois de se tornar politicamente intranscendente.
Quando o jornal da ditabranda, dos carros emprestados à Oban e do “espectro do comunismo” me propôs escrever o artigo principal da página 3 em um domingo – em um reconhecimento claro que jornalistas seus tinham cometido graves erros que aumentam ainda mais a falta de credibilidade do jornal -, eu respondi que não me interessava. Que um artigo escrito em um blog, multiplicado pelos que os reenviam, mais seus ecos nos twitters e nos facebooks, além do twitcam, consegue muito mais leitores que um artigo em um jornal. Além de chegar aos jovens e aos setores dinâmicos da sociedade. Pesquisas mais recentes feitas pelo próprio jornal demonstram como seus leitores hoje são, em sua grande maioria, tucanos (os petistas abandonaram a leitura do jornal), dos grupos A e B, que representam a minoria da sociedade, com ausência absoluta de leitores jovens. Para a empresa interessa, porque são setores de maior poder aquisitivo, o que chama publicidade, mas se distanciaram ainda mais do Brasil real.
O jornal é muito chato, desinteressante, requentado, com cronistas que pararam nos ano 90, jurássicos, que se negam a acreditar que o país mudou, parecem todos iguais, repetem velhões chavões. Alguns jovens de idade, envelheceram prematuramente, incorporaram um ceticismo decadente, que chega rapidamente ao cinismo. Ficaram com os velhos tucanos como leitores, gente sem interesse e sem influência. Dai que tenham um caderno que se pretendem cultural que não é lido por ninguém, nem por eles mesmos.
Eu respondi à oferta que prefiro escrever aqui, propondo que a direção do jornal – que me ligou diretamente – mandasse um texto com suas opiniões, com o compromisso que seria publicado integralmente – o que eles não fazem -, mas que teriam que receber as opiniões dos leitores – interatividade a que eles não estão acostumados. Claro que não mandaram, odeiam a internet, estão irremediavelmente auto-excluidos do futuro da formação democrática da opinião pública.
Mas a velha mídia ainda constitui uma espécie de Exército regular- pesados, caros, lentos -, enquanto nós agimos com métodos de guerrilha, de estocadas, valendo-nos da mobilidade, da surpresa, da criatividade, do humor. Essa a grande batalha democrática entre o velho - que tenta sobreviver, com grandes dificuldades - , e o novo – que busca, com enormes esforços –criar os espaços democráticos e pluralistas que o novo Brasil requer.

Postado por Emir Sader às 04:47

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Soneto do óbvio relutante

Ubiratan de Lemos

Triste relação essa minha com o poema

Bem no modelo machado e sândalo

Reflete sempre desalento como tema

Quando a vida sacaneio como um vândalo

Como o vermelho no fio da navalha

Ou o triste canto de passarinho cego

Faço poema se me faço canalha

Afirmo poesia se a vida renego

Versifico os meus próprios cataplasmas

E das rimas destilo meus ungüentos

Sôo os uivos de todos meus fantasmas

Se benção e maldição confundo

E percorro descaminhos conhecidos

Cedo ou tarde a poesia inundo

quarta-feira, 30 de março de 2011

CartaCapital: Lula, o doutor do povo

de Conceição Lemes

por Eduarda Freitas*, de Coimbra, em CartaCapital


A luz do sol estica-se devagar no pátio da Universidade de Coimbra. Ainda não são nove da manhã. Um grupo de jovens conversa nas escadas que dão acesso à Sala dos Capelos, onde mais tarde vai ser atribuído o grau de Doutoramento Honoris Causa a Lula da Silva. Nas mãos têm máquinas fotográficas. Às costas, a bandeira do Brasil. “Isto é muito importante para nós, por tudo o que Lula fez em oito anos, por todas as mensagens que passou ao mundo em língua portuguesa”. Denise tem 20 anos, é de Caxias do Sul. Está em Coimbra desde janeiro, a estudar Direito. Faz parte da comunidade de quase mil alunos brasileiros que estudam na academia de Coimbra. À entrada do pátio, lê-se: “Em defesa da Amazônia, Dilma pare a barragem de Belo Monte”. Os sinos tocam. Os batedores da polícia aproximam-se. Os jornalistas apontam as máquinas. Centenas de pessoas gritam num português cantado: “Lula! Lula!”. Destaca-se uma voz: “Tira uma foto com o gaúcho, Lula!”. O ex-presidente levanta a mão, como quem pede desculpa: “Estamos atrasados…”. Ainda assim, Fernanda Esteves consegue uma foto: “Eu nem acredito! Consegui…ai…”, diz com a voz entregue à emoção e os olhos castanhos a encherem-se de água. “Estou tremendo!”. E Lula ainda nem era doutor.

Doutoramento para poucos

Faltava pouco. Ao final da manhã, Lula da Silva haveria de sair da mais antiga universidade de Portugal e uma das mais velhas da Europa, com o título de doutor Honoris Causa. Uma distinção que só chega a quatro ou cinco pessoas por ano. Mas antes, havia ainda que cumprir um rigoroso e tradicional protocolo. Já dentro da Biblioteca Joanina, Lula aguardava pela formação do cortejo acadêmico. À entrada da Universidade, ninguém arredava pé. Improvisava-se a voz. Cantava-se o hino brasileiro misturado com saltos e gritos de “sou brasileiro, com muito orgulho, sou brasileiro!”. A manhã ia crescendo. “Isto havia de ser sempre assim”, confidenciavam três empregadas de limpeza da biblioteca onde  estava Lula. “Ganhamos o dia e não fazemos nada!”, riam. Mais um carro a chegar. Sai o primeiro-ministro demissionário de Portugal, José Sócrates. “Não sei se ele é bom politico, mas sei que ele é um gato…!”, riam duas amigas de olhos azuis. Agora sim, Dilma Rousseff. “ Eu quero vê-la!”, gritava Maria da Conceição, uma portuguesa de cabelos brancos, no alto dos seus sessenta anos. Entre seguranças, Maria viu Dilma, casaco vermelho escuro, sorriso rasgado: “Estou muito feliz. Ela é uma grande mulher!”.

Homenagem ao povo brasileiro

Seguiu-se o cortejo. Palmas, muitas palmas, para o quase doutor. Um quinteto de metais marcava o ritmo solene da ocasião. Lula seguia de capa preta e um capelo – pequena capa – sob os ombros. Distinguia-se dos outros elementos do cortejo, cerca de cem doutores de Coimbra, por não usar ainda a borla, uma espécie de chapéu. A luxuosa Sala dos Capelos, datada do sec. XVI, repleta de retratos dos reis de Portugal, aguardava Lula da Silva. “Mais do que um reconhecimento pessoal, acredito que esta láurea é uma homenagem ao povo brasileiro, que nos últimos oito anos realizou, de modo pacifico e democrático, uma verdadeira revolução econômica e social, dando um enorme salto qualitativo no rumo da prosperidade e da justiça”. A voz fugia-lhe, emocionado. “Nada disto seria possível, igualmente, sem a colaboração generosa e leal daquele que foi o meu parceiro de todas as horas, um dos homens mais íntegros que conheci”. Lula referia-se ao seu sempre vice-presidente, José Alencar, falecido na passada terça-feira. A regra dos doutoramento impõe silêncio, mas na Sala dos Capelos ouviram-se palmas no final do discurso de Lula da Silva. E foi ao catedrático jurista português Gomes Canotilho,  que coube fazer o discurso de elogio do doutorando Honoris Causa Luiz Inácio Lula da Silva. Antes do ex-presidente do Brasil receber o anel de senhor doutor.

Lula, o homem de mãos grandes

“Foi o maior anel de doutoramento que fizemos, devido à mão robusta de Lula!”, conta sorridente o joalheiro António Cruz. “ O anel é feito no melhor ouro português, rematado com um rubi com cerca de cinco quilates, elevado por 12 garras”. O preço? “Não posso dizer. Mas não é económico”, ri.  “Vimos várias fotos de Lula para lhe fazermos um anel personalizado. Foi muito especial para nós…!”. Por esta joalharia que vive paredes meias com a muralha de Coimbra, já nasceram anéis de doutoramentos honoris causa para os dedos dos prêmios Nobel José Saramago e Amartya Sen, para Jorge Amado, entre muitos outros. Apesar de tantos anéis, este foi a primeira cerimônia de doutoramento a que António foi assistir: “Admiro muito Lula da Silva!”. Uma hora antes, na sala onde são homenageados os maiores doutores entre os doutores, Canotilho Gomes justificava a atribuição deste título ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”. Emocionado, de sorriso triste, sem prestar declarações, Lula saiu rápido para apanhar o avião para o velório de José Alencar. Ainda assim, uma jornalista brasileira, atirou uma pergunta sem ponto de interrogação: “Ei, presidente, você agora é doutor!”

* A nossa colunista portuguesa Eduarda Freitas, de Coimbra, acompanhou o emocionante doutoramento do ex-presidente Lula na tradicional Universidade da cidade.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Criticar Micarla dá voto em Natal

Reproduzo do blog noticiando de Cefas Carvalho

A pesquisa da Consult sobre intenção de voto para a Prefeitura de Natal em 2012, divulgada na última quinta-feira, dia 24, permite diversas leituras, mas, uma leitura salta aos olhos: ser adversário direto da prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV) garante intenção de voto do eleitor natalense.
Obviamente muitos jornalistas e blogueiros analisaram a liderança do ex-prefeito de Natal, Carlos Edu­ar­do Alves (PDT) como sintomática. Com 50% na simulação de voto espontâneo e 50% na estimulada, Carlos se destacou ao longo desses dois anos como crítico implacável da administração Micarla. Mais que isso, as críticas de Micarla a Carlos (antecessor dela) acabaram resultando em um sentimento favorável a ele, tal o desgaste de Micarla e sua administração.
Mas, outras performances na pesquisa merecem análise. O vereador natalense Adão Eridan (PR) teve na espontânea, 5,1% das intenções de voto, percentual acima de nomes como Fernando Mineiro (PT), com 4,5, e de Felipe Maia e Fábio Faria. Sintomático que Adão tenha se transformado em crítico feroz de Micarla nos últimos meses. A população associou sua artilharia verbal contra a prefeita como capacidade de administrar o município. Somando as intenções de voto de Carlos, Adão Eridan e Mineiro (três dos maiores críticos de Micarla), temos 59,6% dos ouvidos na pesquisa.
O percentual de Wilma de Faria, do PSB, (34,5%) considerado baixo pelo peso eleitoral dela, mostra que o eleitorado pode ter se cansado da relação dúbia que a “Guerreira” teve e tem com Micarla. Ou seja, criticar Micarla dá votos.
VICE-PREFEITO
Tanto que até mesmo o vice-prefeito Paulinho Freire tem percentuais maiores que o da prefeita, tanto na espontânea como na estimulada.
Na primeira, Paulinho tem 6,4%, Micarla, 5,9%. Na segunda, eles apresentam os mesmos números. Lembremos que Paulinho administrou Natal durante um mês, quando Micarla se licenciou para fazer uma pequena cirurgia em São Paulo.
Paulinho não criticou Micarla explicitamente na ocasião, mas parecia deixar claro que queria administrar de modo diferente, menos espalhafatoso que a prefeita-borboleta. Criticar Micarla, pelo visto, dá prestígio e voto em Natal, nos dias de hoje.

http://cefascarvalhojornalista.blogspot.com/2011/03/criticar-micarla-da-voto-em-natal.html

às Segunda-feira, Março 28, 2011

sábado, 26 de março de 2011

Carta dos Blogueiros Progressistas do RN (primeira versão) de danieldantas79

Estamos publicando, para iniciar a discussão, a primeira versão da Carta dos Blogueiros Progressistas do RN.  A ideia é que cada um dos participantes de nosso encontro já possa ler esta versão da carta e tomar nota do que possa contribuir em propostas de redação, alteração, discordância ou quais ajustes.  O debate sobre este documento acontecerá na manhã do dia 3 de abril, na plenária de encerramento do I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas do RN:

No espírito alcançado pelos “pioneiros” que se reuniram em São Paulo em agosto de 2010, nós, blogueiras, blogueiros, tuiteiros, tuiteiras do Rio Grande do Norte, identificados com as lutas pela democratização da mídia e contra o controle e a censura pelo poder econômico do acesso à informação, nos encontramos em Natal entre os dias 1 e 3 de abril de 2011.

O principal objetivo de nosso encontro foi criar e fortalecer uma teia de participantes e militantes nas redes sociais que possa subsidiar discussões e ações práticas na direção de uma sociedade mais democrática e de uma cidade, um estado e uma nação melhor, com maior participação dos cidadãos e uma resolução mais aprofundada de nossas demandas históricas.

Por isso, debatemos e propussemos ao fim de nosso primeiro Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas:

  1. Participar das lutas encampadas pelo movimento nacional, especialmente as que dizem respeito ao apoio crítico ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL); à luta pela regulamentação dos Artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal, que legislam sobre a comunicação no Brasil e proíbem a concentração abusiva dos meios de comunicação; ao combate a iniciativas que cerceiam a liberdade de expressão na Internet, como no caso do projeto de lei conhecido como “AI-5 digital”; à elaboração de políticas públicas que estimulem o fortalecimento das redes sociais digitais como fóruns importantes de debate e formação de opinião pública e diversidade informativa; à cobrança pela efetivação por parte do Executivo e Legislativo Federais das resoluções aprovadas na I Conferência Nacional de Comunicação, ocorrida ainda no fim de 2009.
  1. Defender a realização de uma segunda Conferência Nacional de Comunicação ainda durante o governo da presidenta Dilma Roussef, desde que o executivo tenha condições de implementar as decisões da primeira conferência.
  1. Pressionar o governo federal para que envie ao Congresso o projeto de lei que regulamenta os meios de comunicação no Brasil, preparado ao fim do governo anterior, e recolhido pelo atual ministro de Comunicações, Paulo Bernardo.
  1. Defender a revogação, no âmbito do ministério da Cultura, de todas as políticas que significaram retrocesso frente à gestão anterior, especialmente no que se refere à revisão da legislação acerca de direitos autorais no país, marcada simbolicamente pela retirada das licenças Creative Commons dos sites do ministério.  Além disso, defendemos o fortalecimento da gestão participativa da cultura no país, incluindo aí, a ampliação da política de editais e dos pontos de cultura.
  1. Cobrar dos governos municipais e estadual políticas públicas, especialmente no âmbito da cultura, da educação, da comunicação e da ciência e tecnologia, que representem avanço na democratização do acesso e da participação popular.
  1. Rejeitar toda forma do que poderíamos chamar de macartismo contemporâneo que tem tido seu espaço aqui no Estado, através da perseguição sistemática, por parte de algumas de nossas autoridades políticas, a jornalistas, tuiteiros e blogueiros que ousam criticar seus feitos e ações públicas no exercício do poder.
  1. Defender o fortalecimento das ações de controle social dos poderes públicos a partir dos Conselhos setoriais e de direitos, incluindo nesse ponto a luta pelo estabelecimento de conselhos de comunicação social no estado e nos municípios.
  1. Comprometer-se a participar ativamente do debate acerca das cidades e do estado do Rio Grande do Norte, contribuindo na elaboração de políticas e ações públicas por parte da sociedade.

Ao fim de nosso encontro, apontamos a necessidade de que sejam estabelecidos núcleos municipais e regionais de blogueiros e tuiteiros progressistas, além do apoio à realização do segundo encontro nacional, em junho, na cidade de Brasília.

Pleitaremos, por fim, a formação de um núcleo local do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé no RN e a realização do terceiro encontro nacional na capital potiguar.

Natal, 03 de abril de 2011.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Atentado contra a blogosfera: Blogueiro carioca sofre tentativa de assassinato.

Ontem o blogueiro carioca Ricardo Gama sofreu um violento atentado quando caminhava na Rua Santa Clara, em Copacabana. Foram 3 tiros disparados contra o blogueiro por um pistoleiro que estava em um carro. Testemunhas afirmam que o pistoleiro desceu do carro, chamou Ricardo pelo nome e fez os três disparos, na cabeça, no pescoço e no tórax do blogueiro.


Ricardo está no hospital Copa D´Or em Copacabana e já passou por uma cirurgia. Felizmente os médicos afirmam que houve uma melhora satisfatória após a cirurgia.

Ricardo Gama é conhecido por manter um blog crítico ao governo Sergio Cabral e ao prefeito Eduardo Paes. Nos últimos dias Ricardo publicou alguns posts em que denunciava empresários do tráfico no Rio de Janeiro.

O atentado contra Ricardo Gama é um atentado contra todos os blogueiros que atravessam enormes dificuldades para poder trazer notícias diferentes das que estamos acostumados a receber pelos grandes meios de comunicação. O atentado contra Ricardo é também um atentado contra a liberdade de expressão. Estejamos atentos. Não permitamos que o estado autoritário nos censure através da imposição do medo.

A resposta para qualquer tentativa de mordaça deve ser o estridente som dos blogs!


http://fatossociais.blogspot.com/2011/03/atentado-contra-blogosfera-blogueiro.html

domingo, 13 de março de 2011

Carnaval de Macau, para o povo ou para a população?

cordão da fantasia

Foto: Tião Maia

Voltei ao carnaval da minha terra salgada oito anos depois. Após ouvir opiniões diversas sobre como andavam as coisas por lá, pude finalmente ver de perto. A primeira impressão que tive sobre a cidade me foi passada pela aparência das ruas e prédios, é nítida a diferença. Encontrei Macau asfaltada, sem a lama aparente, sequer as casinhas destroçadas da periferia perduraram. Alvíssaras visões. Buscando enxergar além da aparência, pude verificar in loco a ampla aceitação da atual administração, a despeito do temor de alguns em se referir criticamente ao alcaide do alto-oeste, restrições quanto a democracia e a transparência não são poucas, a começar pelos questionamentos feitos pela representante do judiciário local no tocante ao volume de dinheiro destinado a promoção do carnaval 2011.

O nosso carnaval é um mega-evento, todos sabem, e adquiriu um formato que se distanciou das nossas tradições, entretanto, não sem esforço, sairei da atitude ptolomaica e tentarei compreender o que vi considerando o maior número de variáveis envolvidas no fenômeno. Impossível não conjugar carnaval com política! Os recursos públicos investidos são vultosos, a cultura do nosso povo é efervescente e carnavalesca, a economia da cidade pulsa mais forte no período momesco, há uma enorme afetividade da população do estado em relação a nossa festa, enfim há um grande impacto sócio-econômico do carnaval sobre a sociedade macauense. Conseqüentemente é do interesse de todos a discussão sobre os rumos que serão dados ao maior evento da nossa cidade.

Carnatalizar ou manter a tradição? Aparentemente excludentes, ao meu ver, as duas tendências me parecem, hoje, complementares. Do ponto de vista econômico o “São João fora de época” foi responsável pela grande visitação do folião-turista local, pessoas de todo e estado e região, principalmente jovens moveram-se à Macau para ver e ouvir as bandas do momento, que lotam parques por onde passam, gerando divisas sob a forma de aluguel de residências, consumo de alimentos e bebidas e permanência na rede hoteleira local.

Por outro lado o filho ausente que volta sempre no carnaval, não pode e não deve ser esquecido. Ainda que em menor quantidade, dado o gigantismo assumido pelo evento, graças principalmente ao retorno de mídia e os milhões gastos com atrações, foi e é o público fiel que fez e faz junto com os seus familiares o sucesso eterno do carnaval de Macau.

A valorização da cultura local tem sido o principal combustível dos grandes carnavais nacionais como o de Pernambuco e o do Rio de Janeiro. No Rio a industrialização do desfile das escolas, acabou por se tornar um prato caro à maioria da população, o que num determinado momento esvaziou o carnaval de rua, mas não tardou a ser o fato gerador do ressurgimento das bandinhas de rua, dos blocos que hoje arrastam centenas de milhares de pessoas a cada dia de carnaval: Banda de Ipanema, Cordão do Bola Preta, Cacique de Ramos entre outros resistiram bravamente e voltaram a cena do carnaval carioca. Quem sabe por um fenômeno do inconsciente coletivo, o Cordão da Fantasia cumpriu esse papel. Resistiu! E essa resistência culminou no sucesso, na beleza, na poesia, no lirismo, na música autoral, no artista local, nas famílias macauenses felizes nas ruas promovendo um reencontro absolutamente fantástico. No esteio do Cordão ouvi dos meus amigos do Jardim a boa notícia que irão re-editar o bloco em 2012, isso com certeza trará de volta muitas pessoas que não se identificam com o Axé e o Forró, ampliando nossos horizontes e diversificando nossa programação, agregando valor e charme ao nosso carnaval.

Carnaval quem faz é o povo. Benito dizia que Macau não tem povo, tem população. Talvez por que o nosso povo foi vitimado pelo êxodo provocado pela industrialização das salinas, pelo equívoco histórico do porto-ilha, pela natimorta alcanorte, temos hoje uma população local e um povo disperso mundo a fora, mas o carnaval une a todos. Gerar divisas à população e preservar a cultura do seu povo. É um grande desafio. Quem topa?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Cordão pede passagem

No último sábado 5/02 aconteceu em Natal, na casa do nosso amigo e conterrâneo Marcos Pinto, a prévia carnavalesca do bloco Cordão da Fantasia. Como não poderia ser diferente, em se tratando de folia macauense, a festa foi um sucesso. Animada pelo nosso talentoso músico Marquinhos, filho do saudoso Francilúzio, outro ícone da nossa cultura musical, estendeu-se até a madrugada, regada pela espontaneidade, a alegria, a irreverência e o amor que nós macauenses temos à nossa terra e em especial ao nosso carnaval.

O Cordão da Fantasia foi uma iniciativa do nosso companheiro Renan e ao meu ver surgiu para ocupar a lacuna deixada pela carnatalização do nosso carnaval. Não de agora, as administrações municipais, de maneira equivocada, vêm impondo um processo de aculturação ao nosso povo. O modelo micareta importado de outras cidades, principalmente de Natal, introduziu elementos estranhos as nossas tradições e vem, ano após ano, matando a nossa história e nos distanciando das características que fizeram do nosso carnaval o maior do estado. Os blocos gigantescos e uniformizados, a mamãe- sacode, o abadá, o corredor da folia, o camarote vip com dj's, privilegiam os interesses econômicos de poucos e segregam muitos e principalmente se opõem a diversidade, a criatividade popular, as troças, as turmas, a fantasia, e a geração de emprego ao músico local, já que grandes somas de dinheiro são destinadas a contratação de bandas de forró(vixe!) que aglutinam recursos e sufocam as iniciativas puntuais que predominavam outrora.

Num passado não muito distante, além de Jardim, Equipicão, Bruxos, Balancê, Caçaxeiros, Futuristas, entre outros, havíam ainda as pequenas troças, blocos de papangus, todas elas animadas por pequenos grupos musicais, formando um mosaico cultural, que permitia a música autoral(todo bloco tinha seu hino) e a demanda pelo trabalho musical. Lembro que no período que antecedia o carnaval as costureiras ficavam assoberbadas de serviço, as Escolas de Samba movimentavam a pequena economia doméstica local e até os sanfoneiros Parafuso e Tarciso tocavam frevo e marchinhas nos blocos da Cobra e do Boi. Não se trata de saudosismo. É preservação da memória cultural, é a perpetuação da história. O deslumbrante carnaval pernambucano, guardando as devidas proporções, em muito se assemelha ao nosso, e lá o Axé é proibido por lei .Essa iniciativa antes de ser bairrista serviu para proteger a cultura do frevo e do maracatu e ao invés de acabar, impulsionou o turismo de eventos e movimenta a economia de pólos como o de Bezerros na zona da mata pernambucana, gerando recursos à produção cultural local, barateando os investimentos públicos e democratizando o acesso da população a esses recursos. Já que se copia modelos, porque copiar um modelo caro e concentrador de renda que é o Carnatatal? Todos sabemos que a Destaque é um pequeno grupo da elite natalense que lucra os tubos produzindo um carnaval fora de época, na capital que já foi chamada de “túmulo do carnaval”, pela sua população sair para o interior e outros endereços mais animados como Pernambuco. Precisamos agora promover um São João fora de época?

É preciso resistir, e o Cordão da Fantasia é um foco de resistência cultural, que na segunda-feira de carnaval estará nas ruas para manter acesa a chama. Sei que o poder público está custeando a iniciativa, é louvável, cumpre a sua obrigação, mas quem faz o carnaval é o povo, gerações se passam e o carnaval permanece. Que permaneça com história, tradição, características próprias. Que tenha a cara do nosso povo sofrido e animado, que ama sua terra apesar de tudo e por mais que pessoas queiram marcá-lo como quem marca gado, a marca do nosso carnaval sempre será a alegria, a espontaneidade, a irreverência. Façamos a festa, em paz, mas com consciência social, memória cutural e respeito a nossa história e nossas tradições.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O primeiro passo de uma grande temporada

A estréia do Flamengo no campeonato carioca, me agradou. Considerando que a temporada apenas se inicia, aspectos como a falta de entrosamento são previsíveis. Destaco a participação decisiva do goleiro Felipe que garantiu o zero do Voltaço, tudo indica que ele será um ídolo da Nação. Dos novatos ressalto o Vander e o Wanderley, jovens, rápidos e habilidosos apontam numa perspectiva de elenco versátil, oferecendo uma série de alternativas ao técnico Luxemburgo. Se contarmos que o Mengão vem se destacando na copinha e que há outros jogadores importantes, como Diego Maurício, a disposição da seleção sub-20, nosso técnico terá o melhor dos problemas: como escalar tendo tantas opções. Isso sem falar das megas estrelas Ronaldinho e Thiago Neves. Merecem destaques também as participações de William, o bom ladrão, que melhorando a qualidade do passe poderá se firmar como um dos melhores volantes do mundo, e do nosso capita Leo Moura, que com sua categoria e liderança de sempre, esbanjou futebol confirmando a sua alma rubro-negra. Me preocupa ainda o nosso miolo de zaga. Estarão os jovens Wellington e David Bráz a altura dos nossos sonhos para 2011? Ontem Felipe garantiu a rapadura, mas não podemos contar com isso. No geral, deu por gasto, afinal vencemos, não sem susto, mas vencemos.