segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Cordão pede passagem

No último sábado 5/02 aconteceu em Natal, na casa do nosso amigo e conterrâneo Marcos Pinto, a prévia carnavalesca do bloco Cordão da Fantasia. Como não poderia ser diferente, em se tratando de folia macauense, a festa foi um sucesso. Animada pelo nosso talentoso músico Marquinhos, filho do saudoso Francilúzio, outro ícone da nossa cultura musical, estendeu-se até a madrugada, regada pela espontaneidade, a alegria, a irreverência e o amor que nós macauenses temos à nossa terra e em especial ao nosso carnaval.

O Cordão da Fantasia foi uma iniciativa do nosso companheiro Renan e ao meu ver surgiu para ocupar a lacuna deixada pela carnatalização do nosso carnaval. Não de agora, as administrações municipais, de maneira equivocada, vêm impondo um processo de aculturação ao nosso povo. O modelo micareta importado de outras cidades, principalmente de Natal, introduziu elementos estranhos as nossas tradições e vem, ano após ano, matando a nossa história e nos distanciando das características que fizeram do nosso carnaval o maior do estado. Os blocos gigantescos e uniformizados, a mamãe- sacode, o abadá, o corredor da folia, o camarote vip com dj's, privilegiam os interesses econômicos de poucos e segregam muitos e principalmente se opõem a diversidade, a criatividade popular, as troças, as turmas, a fantasia, e a geração de emprego ao músico local, já que grandes somas de dinheiro são destinadas a contratação de bandas de forró(vixe!) que aglutinam recursos e sufocam as iniciativas puntuais que predominavam outrora.

Num passado não muito distante, além de Jardim, Equipicão, Bruxos, Balancê, Caçaxeiros, Futuristas, entre outros, havíam ainda as pequenas troças, blocos de papangus, todas elas animadas por pequenos grupos musicais, formando um mosaico cultural, que permitia a música autoral(todo bloco tinha seu hino) e a demanda pelo trabalho musical. Lembro que no período que antecedia o carnaval as costureiras ficavam assoberbadas de serviço, as Escolas de Samba movimentavam a pequena economia doméstica local e até os sanfoneiros Parafuso e Tarciso tocavam frevo e marchinhas nos blocos da Cobra e do Boi. Não se trata de saudosismo. É preservação da memória cultural, é a perpetuação da história. O deslumbrante carnaval pernambucano, guardando as devidas proporções, em muito se assemelha ao nosso, e lá o Axé é proibido por lei .Essa iniciativa antes de ser bairrista serviu para proteger a cultura do frevo e do maracatu e ao invés de acabar, impulsionou o turismo de eventos e movimenta a economia de pólos como o de Bezerros na zona da mata pernambucana, gerando recursos à produção cultural local, barateando os investimentos públicos e democratizando o acesso da população a esses recursos. Já que se copia modelos, porque copiar um modelo caro e concentrador de renda que é o Carnatatal? Todos sabemos que a Destaque é um pequeno grupo da elite natalense que lucra os tubos produzindo um carnaval fora de época, na capital que já foi chamada de “túmulo do carnaval”, pela sua população sair para o interior e outros endereços mais animados como Pernambuco. Precisamos agora promover um São João fora de época?

É preciso resistir, e o Cordão da Fantasia é um foco de resistência cultural, que na segunda-feira de carnaval estará nas ruas para manter acesa a chama. Sei que o poder público está custeando a iniciativa, é louvável, cumpre a sua obrigação, mas quem faz o carnaval é o povo, gerações se passam e o carnaval permanece. Que permaneça com história, tradição, características próprias. Que tenha a cara do nosso povo sofrido e animado, que ama sua terra apesar de tudo e por mais que pessoas queiram marcá-lo como quem marca gado, a marca do nosso carnaval sempre será a alegria, a espontaneidade, a irreverência. Façamos a festa, em paz, mas com consciência social, memória cutural e respeito a nossa história e nossas tradições.