domingo, 13 de março de 2011

Carnaval de Macau, para o povo ou para a população?

cordão da fantasia

Foto: Tião Maia

Voltei ao carnaval da minha terra salgada oito anos depois. Após ouvir opiniões diversas sobre como andavam as coisas por lá, pude finalmente ver de perto. A primeira impressão que tive sobre a cidade me foi passada pela aparência das ruas e prédios, é nítida a diferença. Encontrei Macau asfaltada, sem a lama aparente, sequer as casinhas destroçadas da periferia perduraram. Alvíssaras visões. Buscando enxergar além da aparência, pude verificar in loco a ampla aceitação da atual administração, a despeito do temor de alguns em se referir criticamente ao alcaide do alto-oeste, restrições quanto a democracia e a transparência não são poucas, a começar pelos questionamentos feitos pela representante do judiciário local no tocante ao volume de dinheiro destinado a promoção do carnaval 2011.

O nosso carnaval é um mega-evento, todos sabem, e adquiriu um formato que se distanciou das nossas tradições, entretanto, não sem esforço, sairei da atitude ptolomaica e tentarei compreender o que vi considerando o maior número de variáveis envolvidas no fenômeno. Impossível não conjugar carnaval com política! Os recursos públicos investidos são vultosos, a cultura do nosso povo é efervescente e carnavalesca, a economia da cidade pulsa mais forte no período momesco, há uma enorme afetividade da população do estado em relação a nossa festa, enfim há um grande impacto sócio-econômico do carnaval sobre a sociedade macauense. Conseqüentemente é do interesse de todos a discussão sobre os rumos que serão dados ao maior evento da nossa cidade.

Carnatalizar ou manter a tradição? Aparentemente excludentes, ao meu ver, as duas tendências me parecem, hoje, complementares. Do ponto de vista econômico o “São João fora de época” foi responsável pela grande visitação do folião-turista local, pessoas de todo e estado e região, principalmente jovens moveram-se à Macau para ver e ouvir as bandas do momento, que lotam parques por onde passam, gerando divisas sob a forma de aluguel de residências, consumo de alimentos e bebidas e permanência na rede hoteleira local.

Por outro lado o filho ausente que volta sempre no carnaval, não pode e não deve ser esquecido. Ainda que em menor quantidade, dado o gigantismo assumido pelo evento, graças principalmente ao retorno de mídia e os milhões gastos com atrações, foi e é o público fiel que fez e faz junto com os seus familiares o sucesso eterno do carnaval de Macau.

A valorização da cultura local tem sido o principal combustível dos grandes carnavais nacionais como o de Pernambuco e o do Rio de Janeiro. No Rio a industrialização do desfile das escolas, acabou por se tornar um prato caro à maioria da população, o que num determinado momento esvaziou o carnaval de rua, mas não tardou a ser o fato gerador do ressurgimento das bandinhas de rua, dos blocos que hoje arrastam centenas de milhares de pessoas a cada dia de carnaval: Banda de Ipanema, Cordão do Bola Preta, Cacique de Ramos entre outros resistiram bravamente e voltaram a cena do carnaval carioca. Quem sabe por um fenômeno do inconsciente coletivo, o Cordão da Fantasia cumpriu esse papel. Resistiu! E essa resistência culminou no sucesso, na beleza, na poesia, no lirismo, na música autoral, no artista local, nas famílias macauenses felizes nas ruas promovendo um reencontro absolutamente fantástico. No esteio do Cordão ouvi dos meus amigos do Jardim a boa notícia que irão re-editar o bloco em 2012, isso com certeza trará de volta muitas pessoas que não se identificam com o Axé e o Forró, ampliando nossos horizontes e diversificando nossa programação, agregando valor e charme ao nosso carnaval.

Carnaval quem faz é o povo. Benito dizia que Macau não tem povo, tem população. Talvez por que o nosso povo foi vitimado pelo êxodo provocado pela industrialização das salinas, pelo equívoco histórico do porto-ilha, pela natimorta alcanorte, temos hoje uma população local e um povo disperso mundo a fora, mas o carnaval une a todos. Gerar divisas à população e preservar a cultura do seu povo. É um grande desafio. Quem topa?

5 comentários:

Macau em Dia disse...

Meu caro amigo Bira,
Tomei a liberdade de publicar o texto no Macau em Dia... gostei do termo "carnaval fora de época". Parabéns, uma boa visão que poderá começar uma discussão: Afinal, o carnaval de Macau é para os macauenses ou para os turistas?
Abraços, Alex

ro.pimentell@hotmail.com disse...

É MEU CARO BIRA,
A ÚLTIMA VEZ QUE PASSEI CARNAVAL EM
MACAU.... FOI EM 1975!!!!! DEPOIS
VOLTEI 78 E 79, PARA PEGAR DOCUMENTOS,JAMAIS VOLTEI. SINTO MUITO VANTADE DE IR, MAS QUEM SABE UM DIA.LEMBRO DO MELA MELA. UM DIA VOLTAREI A MINHA TERRA QUERIDA. QUERO VELA ASFALTADA E LINDA, CARNAVAL É PARA TODOS, PRINCIPALMENTE PARA NÓS
MACAUENSES. ABÇS.ROSARINHO PIMENTEL

Unknown disse...

É grande Bira, são três carnavais que não passo em Macau, acostumado a acompanhar de perto o período momesco, do alto dos trios elétricos, animando os foliões Macauenses, pude sentir durante todo o tempo que passei nessa querida ilha, toda a extensão que esse evento alcançou. Mas, como bem colocado por você, o axé e o forró tomaram conta do nosso carnaval.
Existe espaço para todos os rítimos e existe rítimo para todos, aí é onde mora o problema; falta organização. Não se discute a questão econômica, já que sabemos que muitas famílias aproveitam para ganhar um dinheirinho extra. Mas, essa é a pequena parte da fatia, e a maior? quem fica? pra onde vai?

Será que algum dia teremos de volta o bom e tradicional frevo?

"É de fazer chorar, quando o dia amnhece e eu vejo o frevo acabar , óh quarta feira ingrata chega tão depressa só pra contrariar..."

Miguel Júnior

Sheila Araújo disse...

Pois é, Bira...são muitas as vertentes desse debate sobre o grande carnaval macauense. Muito particularmente, pessolamente não vejo graça nesse mundaréu de gente que enche Macau nesse período. Não pelo povo, que, enfim, busca diversão, alegria, uma felicidade possível. Paredões de som à parte (assunto esse que merece uma postagem própria),falo na quantidade de gente em relação à estrutura da cidade, que ainda é muito precária e não atende aos mais básicos requisitos de segurança, limpeza urbana, organização do trânsito, hospedagem, alimentação, etc. É notável, maravilhoso até, constatar que tudo no fim "dá certo". Não é incrível? Outra coisa é a transformação do carnaval em outra festa, com todas essas bandas de forró (forró elétrico...brincadeira, né?), que não são boas mesmo nem para as festas juninas, quanto mais para carnaval!!! Outro dia vi um vídeo do carnaval de 1991 na Praça da Conceição, com uma bandinha e artistas macauenses e me dei conta de que as novas gerações têm dificuldade em compreender o que é CARNAVAL pelo simples fato de que nunca viram, portanto não têm como comparar, e aceitam que esse negócio que está aí é o carnaval. Cabe a nós, portanto, o resgate da verdadeira festa de Momo, e o Cordão da Fantasia é o começo dessa empreitada. Um bom começo.
Abraços. Sheila Araújo

Elson de Biô disse...

De Elson de Biô.
Meu caro Bira, descordo de você, com relação ao carnaval de Macau, entendo que o mesmo perdeu completamente suas origems, isso que chamam de carnaval não ér o carnaval que queremos e sim o carnaval de ums poucos que manipulam de forma desregada o dinheiro publico, é claro que se pode fazer um carnaval diferente e democrático com um terço do que se gata com essas bandas de "forró" que de forró não tem nada. A nossa cidade sofre uma tremenda invasão, sem a menor infraestrutura, de acomodações,leitos hospitalar e outros é tempo de refletirmos o que realmente é bom para Macau, hoje Macau é apenas um refúgio muito renável para forasteiros inescrupulosos que usam isso que chamam de carnaval para jogar o dinheiro público na vala obscura da corrupção !!