Oposição só têm chance se houver ‘crise catastrófica’:
Por Rodrigo Vianna e Juliana Sada
O resultado das eleições municipais trouxe novidades e novos atores ao cenário político. O balanço mostra o crescimento do PSB nas capitais; o avanço do PT em redutos tucanos; a entrada do PSOL na disputa majoritária; um bom desempenho do PSD… Junto das novidades, vieram as dúvidas sobre a disputa de 2014.
O Escrevinhador conversou com o historiador e professor da USP Lincoln Secco sobre o desempenho do PT nestas eleições, o espaço de ação da oposição e a disputa de 2014.
Para Secco, autor do livro “História do PT”, as políticas sociais do governo federal possibilitaram a diminuição do poder dos coronéis nas pequenas cidades do interior do nordeste e o crescimento do PT nestes locais.
Sobre 2014, o historiador não tem muitas dúvidas: a oposição e até mesmo Eduardo Campos só têm chance em 2014 caso “o governo estiver numa crise catastrófica”. Ao falar do PSDB, é categórico: “ele não tem nada a oferecer à população”.
Confira a seguir a íntegra da entrevista.
No Nordeste, o PT perde terreno nas capitais, mas parece avançar nos pequenos municípios. Por quê?
Desde que Lula implementou suas políticas sociais o PT ampliou sua presença em regiões mais pobres do Nordeste. O PT já tinha uma poderosa marca social oriunda de suas gestões municipais e do próprio discurso recorrente de suas lideranças a favor dos mais pobres. Só que a influência petista esbarrava nos vestígios de coronelismo que ainda havia. O aumento do salário mínimo e os programas Luz para Todos e Bolsa Família mudaram a vida das mães de família e o comércio local das pequenas cidades. A mulher recebe os recursos diretamente numa conta bancária, sem mediação do político local.
No Sul e Sudeste parece dar-se o inverso: PT é forte nas cidades grandes e, apesar de eleger mais prefeitos nas pequenas, não consegue ainda rivalizar com PMDB e PSDB. Por quê?
Os dois Estados mais populosos do Brasil são governados pelo PSDB: São Paulo e Minas Gerais. Uma produção industrial e agropecuária forte e uma classe média tradicional estabelecida impediram historicamente o PT de se posicionar na liderança. Basta visitar uma pequena cidade do Oeste paulista e outra do interior da Bahia para ver a diferença. O impacto das políticas sociais de Lula foi muito menor nos Estados mais desenvolvidos. Ali, o PT tem mais força nas cidades médias e grandes, onde a periferia é extensa e os problemas crônicos da saúde, transporte e habitação por vezes inclinam o eleitorado à esquerda.
O que significa o avanço de Eduardo Campos?
Campos é um político absolutamente tradicional e que divide com outras oligarquias o PSB. Não vejo nada de mais nisso. Tanto ele quanto Aécio Neves são vazios programáticos. Nada têm a oferecer à população que seja diverso do que já é feito pelo PT. Campos é da base do governo e em nenhum momento criticou Dilma Rousseff. Ele pode ser candidato à presidência fora do campo político governista? Pode. Mas só seria eleito se o governo estiver numa crise catastrófica, ou se a oposição encontrar um programa alternativo, o que ela tenta desde 2002.
O PT terá que ir cada vez mais ao centro para se manter no poder?
O PT já se deslocou para um discurso moderado. Mas as oscilações do PT dependem da conjuntura e dos grupos políticos que o confrontam. A política brasileira desde 2005 se tornou muito polarizada. A grande imprensa retrocedeu aos tempos do Primeiro Reinado ou ao menos do lacerdismo, com o uso de uma linguagem desproporcional ao “perigo” que o PT representaria. Acuados, até mesmo membros do PT repetem a ideologia rasteira do republicanismo e dizem que a alternância no poder é necessária. Ora, quem vence e permanece no poder numa democracia só o faz porque o povo quer. Ninguém diz que a Suécia é uma ditadura por ser governada há decênios pela Social Democracia. No presidencialismo a rotatividade deve ser da pessoa, para que ela não personalize demais o poder, mas não do partido.
Há espaço para oposição à esquerda?
Num horizonte político visível, não. O espaço para uma alternativa que consiga captar os descontentes com o PT e com a oposição de direita está aberto e em disputa. Heloísa Helena e Marina Silva já o ocuparam. Mas para uma esquerda radical o importante seria crescer na base social do PT e não só na classe média tradicional. Ela erra ao reproduzir o discurso moralista que o PT fazia no passado. O PT podia porque tinha ampla base social operária e nas periferias dos grandes centros. Ele tinha algo mais a dizer. Atualmente, só uma inesperada aceleração histórica pode dar alguma voz à extrema esquerda.
E dentro do próprio PT, há espaço para as correntes mais à esquerda?
Como todo grande partido organizado, o PT vai manter uma ala esquerda. Mas enquanto o partido estiver no governo federal, a esquerda petista se manterá adormecida pelo medo da derrota eleitoral do partido e pela participação que tem no próprio governo.
Com o acerto de Lula na indicação de Haddad, sua influência crescerá internamente?
A influência de Lula não precisa crescer mais (risos). E se você se refere ao novo prefeito de São Paulo, é claro que ele passa a comandar o PT municipal e se projeta para o futuro em outros cargos. Mas é muito cedo para pensar nisso.
Os tucanos têm futuro se deixarem SP de lado e escolherem Aécio Neves em 2014?
O regionalismo paulista dos tucanos é um problema. Mas não foram os candidatos Serra ou Alckmin que perderam as eleições presidenciais. Foi o partido! Ele não tem nada a oferecer à população e só poderá ganhar mediante uma crise de proporções graves ou por um golpe de mão. Aécio Neves é um político que une certa “juventude” para um político de carreira a uma velhice política cansativa. É uma pessoa sem ideias. Como candidato terá boa votação provavelmente. Mas simplesmente por encarnar o voto oposicionista que é grande, mas insuficiente.
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