quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A seca, indústria e patifaria

A seca, indústria e patifaria:

A distribuição de feirinhas para os atormentados de fome sempre foi uma prática comum de alguns políticos. É prática que persiste ainda hoje.
No jornal O Macauense de 11 de fevereiro de 1888, encontramos interessante artigo discorrendo sobre os efeitos da seca. Dispensando as adjetivações comuns à  época como o “Secca fatal, cruenta, devastadora vai solapando esta misera população, que andrajosa, nùa, faminta, myrrada – vaga pelas ruas e estradas, …”, é de reconhecer que o problema da seca naquela época era mesmo devastador, mas bem diferente dos dias atuais em que o problema da seca serve para enriquecer poucos e concentrar mais o capital.
Não é estranho falar na “indústria da seca”, que existe há muito e sempre realimentada pela elite rural e urbana, que vê no Estado um provedor infinito. Essa mesma elite justifica sua incompetência amuletando-se na seca, enquanto o trabalhador rural e o pequeno produtor rural, os verdadeiros prejudicados recebem as migalhas do dinheiro despejado pelo governo federal a cada estação sem chuvas. Desde muito existiu e existem centenas de programas criados para “resolver” a questão da seca, mas não se resolve. E por quê? Porque na transferência de dinheiro para a região Nordeste sempre ganhou o capital financeiro e os grandes empresários rurais e urbanos.
Mas voltemos ao 1888 e a proposta do articulista macauense ao governo. Louvando a atitude do Administrador da Província pela construção de um açude em Angicos e outro em Santana do Matos, informa que Macau  por ser “Porto de mar e receptáculo da população do sertão que emigra nessas crises  – e actualmente cheia de um povo enorme – existem servisos de grande utilidade publica á fazer-se, e que traram realisados, encalculaveis benefícios ao commercio, à navegação e a indústria desta cidade e da província”.  E então sugere: “Temos dous aterros já em ruinas pertencentes ao Estado, feitos em 1877 a 1879 sendo um para o litoral e povoação do Alagamar, e o outro que liga esta cidade com o sertão e agreste da província; temos também dous pequenos canaes a abrir no rio que comunica esta cidade como o Pôrto Oficinas que feitos, encortarão à metade, a distancia da navegação. Estes serviços occupam um grande pessoal e abrigará da morte centenas de vidas”. Propõe também a construção do ramal telegráfico com Angicos e a construção de um açude “no rio Assú pelo systema Revy, no lugar Morro do Coronel Jerônymo ou Alto do Rodrigues…”
Conclui que as ações ajudarão na conservação da mão de obra,  “… não se deve consentir que fique despovoada uma Provincia inteira, por falta de pão, quando este pode muito bem ser dado pelo trabalho; resultando dahi o benefício publico e a conservação dos braços que amanhan serão indispensável, quando entrarmos em epocha normal”.
Há nesse discurso de um conservador, diferença fundamental para o discurso capitalista dos nossos dias. Hoje é comum o assistencialismo que reverte em votos nas eleições. E ao contrário do articulista que é claro em mostrar a importância de manter trabalhadores vivos para “ephoca normal”, hoje nem há a preocupação, ameaçados nos seus negócios, estes capitalistas propõem de imediato a demissão dos trabalhadores.

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