terça-feira, 25 de setembro de 2012

Macau não tem preço, tem tradição de luta.







Aproximam-se as eleições municipais, muito se ouviu numa campanha, mais uma vez, paupérrima de ideias e farta de falácias. Acompanhei atentamente o seu desenrolar na minha terra Macau, à distância via web e in-loco através de visitação. O embate principal se dá em torno da permanência do PMDB de Flávio Veras no (des)mando do Palácio Albino Melo.
O alcaide do alto-oeste foi conduzido ao cenário político por lideranças locais. Mecenas generoso vendia a imagem de empresário social, embrenhou-se nos círculos do poder e conquistou a simpatia dos principais coadjuvantes com ações populistas e frívolas, como a contratação do ator Rodrigo Faro para o bloco carnavalesco Jardim de Infância, não é de hoje sua ligação com este grupo. Alçado a condição de líder pelos governistas da época, os atuais PSDB e DEM, utilizou-se desta aliança para derrotar Afonso Lemos e seu grupo e num segundo momento desvencilhou-se dos primeiros numa jogada de mestre que mostrou suas verdadeiras habilidades. Líder isolado elegeu-se prefeito sob acusações de corrupção eleitoral, foi cassado e numa demonstração de resistência voltou à prefeitura ainda mais fortalecido. Geriu Macau num tempo de vacas gordas, os royalties do petróleo oferecem condições ao poder público local de garantir à população serviços essenciais inimagináveis à maioria dos municípios do estado e com essa munição inesgotável credenciou-se à reeleição, quando novamente sob denúncias de corrupção derrotou Eduardo Lemos e abalou o prestígio deste profundamente, quando o cooptou para o seu governo e desmoralizou importante segmento da oposição local. Absoluto investiu na política do pão e circo, maquiagem e sinecura. Um intenso calendário de festas movido a altos cachês, capeamento asfáltico e contratações sem concursos públicos são as principais marcas da sua gestão. Em contraposição a este quadro, a saúde, a educação e a cultura local agonizam.
Com as principais lideranças da oposição neutralizadas o empresário social mostrou-se despótico e suas bravatas constam do anedotário político da região, das quais se destaca: “Sei o preço de cada um nessa cidade”. Não deve saber de todos, mas talvez de uma terça parte. Corre em boca graúda a expressão “bubu”, que nada mais é que a vulgarização da sinecura, sabemos que não há sinecura sem prevaricação. Impedido pela legislação de concorrer a um terceiro mandato, FV mais uma vez arbitra, lança a candidatura de um novato. Engendrado dentro das lojas do patrão, o neófito parece desacreditado, mas o mais importante é a continuidade, a identificação e a fidelidade. O sucesso eleitoral do afilhado depende do cenário da disputa. Contra a rejeição da maioria esmagadora da população a fragmentação da oposição se faz mister, mas ardiloso como uma ave de rapina, o alexandriense  lança-se na aventura, certo do comportamento previsível dos oponentes e com uma economia de recursos banca a campanha do desempregado, filho de pescador, apenas apreciando os seus cupinchas se digladiarem no palanque para aparecerem na foto, pois quem não é visto, não é lembrado. Com uma estrutura modesta em relação a eleições anteriores, conta com uma tão aguerrida quanto venal tropa de choque, que em nome da manutenção da sinecura ou vislumbrando benefícios futuros praticam a injúria, a difamação, a chantagem e a intimidação nos espaços reais e virtuais.
Em consequência desse cenário, surge no seio dos movimentos sociais, em especial no movimento sindical e ambientalista, uma alternativa. Lideranças de categorias, ativistas sociais que enfrentaram os desmandos administrativos da gestão FV se credenciaram junto à população e munidos de uma proposta simples baseada na democratização das decisões concernentes ao interesse público e à gestão transparente dos recursos do erário, com a vantagem política de não terem contribuído de nenhuma forma à consolidação desse quadro desolador, chamam para si a responsabilidade da mudança. Enfrentando toda sorte de dificuldades, num embate extremamente desigual, são depositários da esperança em detrimento do medo. Pela primeira vez nos últimos 30 anos, uma candidatura surgida fora dos limites dos sobrenomes e dos caixas, tem eco na consciência libertária do macauense.  Dr. Wilson, Nazareno Félix, Claudio Gia e seus pares do PT e PDT representam a ruptura com uma prática clientelista e despótica e por liderarem efetivamente a tendência mudancista do nosso povo devem capitanear a oposição e carrearem os votos necessários à transformação política e social da nossa cidade. Muitas foram as tentativas unificadoras, todas esbarraram no personalismo. Na política as convicções devem anteceder as ideologias, estas aos partidos e estes últimos às lideranças. É vontade da grande maioria da população estancar a sangria desatada dos nossos recursos, retomar as rédeas do seu próprio destino, resgatar a sua tão castigada dignidade. 
Um verdadeiro líder é aquele que está disposto a colocar a causa acima de individualidades, que está disposto a fazer sacrifícios pelo seu povo. As favas não estão contadas, a causa não está perdida. Façamos a vontade do povo. Imponhamos um basta à arrogância, às sinecuras, às prevaricações, ao superfaturamento, às viagens suspeitas, ao asfalto suspeito. Chega de mortes por falta de atendimento, da falta de merenda escolar, do mau uso dos recursos públicos, nos unamos em torno da vontade soberana da grande maioria e mudemos o nosso futuro. Macau não tem dono, Macau não tem preço, temos uma tradição libertária, nossos antepassados escreveram com sangue, suor e lágrimas nos cárceres da ditadura o roteiro da nossa luta e temos a oportunidade ímpar de resgatarmos essa história conduzindo pelas nossas próprias mãos o nosso destino.

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