sábado, 23 de abril de 2011

Lançamento nacional da Campanha será no dia 25/04, em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Campo Grande

Reproduzo post do Site da Campanha

A banda larga no Brasil é cara, lenta e para poucos, e está na hora de pressionar o poder público e as empresas para essa situação mudar. O lançamento do Plano Nacional de Banda Larga em 2010 foi um passo importante na tarefa necessária de democratizar o acesso à internet, mas é insuficiente. O modelo de prestação do serviço no Brasil faz com que as empresas não tenham obrigações de universalização. Elas ofertam o serviço nas áreas lucrativas e cobram preços impeditivos para a população de baixa renda e de localidades fora dos grandes centros urbanos.

Enquanto isso, prefeituras que tentam ampliar o acesso em seus municípios esbarram nos altos custos de conexão às grandes redes. Provedores sem fins lucrativos que tentam prover o serviço são impedidos pela legislação. Cidadãos que compartilham sua conexão são multados pela Anatel.

É preciso pensar a banda larga como um serviço essencial. A internet é instrumento de efetivação de direitos fundamentais e de desenvolvimento, além de espaço da expressão das diferentes opiniões e manifestações culturais brasileiras por meio da rede.

Neste dia 25, vamos colocar o bloco na rua: juntar blogueiros, ativistas da cultura digital, entidades de defesa do consumidor, sindicatos e centrais sindicais, ONGs, coletivos, usuários com ou sem internet em casa, todos aqueles que acham que o acesso à internet deveria ser entendido como um direito fundamental. Nossa proposta é unir os cidadãos e cidadãs brasileiros em uma vigília permanente em defesa do interesse público na implementação do Plano Nacional de Banda Larga e da participação da sociedade civil nas decisões que estão sendo tomadas.

O lançamento nacional da Campanha Banda Larga é um Direito Seu! Uma ação pela Internet barata, de qualidade e para todos será feito em plenárias simultâneas em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília, com transmissão por este site. O manifesto da campanha, a lista de participantes e o plano de ação também podem ser vistos aqui. Participe!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

ALÔ ALÔ, REALENGO!

Reproduzo texto de José Ribamar Bessa Freire – Diário do Amazonas, de 10/04/2011

publicado no blog Evidentemente

Não tinha amigos, não batia papo nem contava piada, nunca namorou, jamais lhe deram um cheiro no cangote ou alisaram sua mão, nunca transou, não torcia por time algum, nunca foi ao Maracanã, não xingou juiz de ladrão, de sua garganta jamais saiu um grito apaixonado de gol, não desfilou em qualquer bloco de carnaval. Passava o tempo na internet, em jogos eletrônicos, mas nunca recebeu um aviso no facebook solicitando: “me adicione como amigo”.
Esse filme a gente já viu. Ele é americano. Surge, agora, uma produção brasileira, um compacto que mistura roteiros das várias versões importadas dos Estados Unidos. Aqui o cenário foi uma escola em Realengo, no subúrbio carioca. O personagem principal invadiu a escola, executou friamente doze alunos e feriu mais de dez. Foram importados dos Estados Unidos seu nome – Wellington - e os dois apelidos -Sherman e depois Suingue, botados pelos colegas.
O primeiro foi inspirado na figura nerd de Chuck Sherman, “the Sherminator”, do filme American Pie. O segundo, no seu jeito desajeitado de caminhar, causado por uma perna ligeiramente menor que a outra, que produz um balanço, um ‘suingue’, no dizer debochado dos colegas. Na versão americana de Ohio, o aluno H. Coon, que entrou na escola e atirou em quatro colegas antes de se suicidar, também mancava e ficou conhecido pelo apelido de Deixa-que-eu-chuto.
A história de Wellington começa a ser contada, aos fragmentos, por colegas, vizinhos e irmãos adotivos entrevistados pela mídia, com registros esparsos sobre seu nascimento e sua passagem pelo mundo da família, da escola e do trabalho. Aliás, ele não nasceu, foi excluído do ventre de sua mãe - uma moradora de rua com problemas mentais.
Precisa de carinho

Na escola, usava calças com cós acima da cintura e meias até os joelhos. A menina mais bonita da turma se jogava em cima dele, fingindo assediá-lo, só pra sacanear. Ganhou fama de homossexual. Não reagia às agressões, à semelhança do estudante de origem sul-coreana, nos Estados Unidos, Cho Seung-hui, que matou 32 pessoas na Universidade de Virginia e deixou uma carta dizendo ter sido discriminado como um bicho: “eu morro como Jesus Cristo, para inspirar gerações de pessoas fracas e indefesas”.
Seguindo o modelo americano, Wellington também escreveu uma carta, “rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte”. Nela, deixou um testamento, legando sua casa para alguma instituição encarregada de cuidar dos animais abandonados, “pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar”.

Wellington não tinha o poder de se comunicar. “Mal ouvíamos a voz dele, vivia no mundo dele – contou uma vizinha. “Era muito calado, muito fechado e a galera pegava muito no pé dele, mas não a ponto de ele fazer isso – disse seu ex-colega Bruno Linhares, 23 anos, se referindo ao massacre. Precisava de proteção e carinho?
Outros colegas admitiram que o rapaz foi vítima de ‘bullying’ na Escola Municipal Tasso da Silveira, onde estudou de 1999 a 2002, quando sofreu constantes intimidações. “Além de tudo, ele ainda tirava notas baixas” – completou Bruno. No 8º ano, ficou em recuperação em quase todas as matérias.
A gente chorou muito pensando que Wellington matou aquelas 12 crianças em represália pelo que aconteceu com ele quando nós estudávamos juntos” – contou Thiago da Cruz, outro ex-colega, que usou o adjetivo assustador para se referir ao bullying e à chacota a que Wellington foi submetido. Em entrevista à Folha, reconheceu que não suspeitava do dano que cometeram e acrescentou chorando: “Não era para ninguém ter pago por uma coisa que nós fizemos”.
Ele era tímido e calado” – confirmou ao Globo o gerente da fábrica de alimentos Rica, sediada em Jacarepaguá, adiantando que Wellington permaneceu silencioso o tempo todo numa dinâmica de grupo realizada na firma, onde trabalhou durante dois anos como auxiliar de almoxarifado. A indústria, que abate 170.000 aves por dia e aloja cerca de 46 milhões de pintos, considerou “baixa” a produtividade dele.
Por isso, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, foi excluído do trabalho, demitido em agosto de 2010. Ficou desempregado. Depois da morte da mãe adotiva, passou a morar sozinho mergulhado na mais extrema solidão. Não foi apurado ainda com que recursos ele sobreviveu nos últimos meses.
Nessa quinta-feira, 7 de abril, vestido de preto e com duas armas, como o menino de Ohio, Wellington voltou ao local do crime - a escola onde estudou - para acabar com aquilo que o molestara. Incorporou o apelido de “the Sherminator”, encurralou e executou 12 crianças, feriu outras 13, quase todas mulheres, num banho de sangue nunca visto numa escola brasileira. Depois, ferido, se suicidou com um tiro na boca.
Escola de merda
Errou o alvo. Atirou no que viu e matou o que não viu. Ceifou os sonhos de Larissa,14 anos, que queria ser modelo; de Bianca, a gêmea de 13 anos, que gostava de navegar na internet; de Mariana, 12 anos, o xodó da família, que adorava tirar fotografias; de Géssica, 15 anos, uma menina alegre que havia feito planos de estudar na Marinha; de Igor que gostava de futebol, torcia pelo Flamengo e jogava na Escolinha do Vasco. E de tantas outras adolescentes sonhadores.
Ela morreu naquela escola de merda” gritava dentro do hospital dona Suely, mãe de Géssica. Familiares e amigos ficaram imersos no desespero, na revolta, na dor e na perplexidade. Como foi possível isso acontecer? Podíamos ter evitado? Como?
- “Poderia ter sido um de nós, um de nossos filhos” – escreveu uma leitora do Globo, sem atentar que foram doze de nós, doze de nossos filhos. Por isso é que o Brasil inteiro se sentiu ferido com os tiros disparados por Wellington, que atingiu a todos nós, embora com intensidade diferente.
O presidente do Senado, José Sarney, sempre ‘brilhante’, sugeriu que “o governo deve, a partir desse episódio, reforçar a segurança dentro das escolas brasileiras e até mesmo incluir no currículo um item chamado segurança”. Outras sugestões foram feitas: instalação de câmeras, detectores de metal, catracas, guaritas, porteiros armados. Por que não canhões? Ou fossos ao redor como nos castelos feudais? Isolar a escola da comunidade onde está encravada é alguma garantia de segurança?
A prefeitura do Rio chegou a iniciar, em novembro do ano passado, a contratação de porteiros para as escolas, mas houve denúncias de que as vagas estavam sendo loteadas através de indicação política, naquele modelo que o Sarney gosta, usa e abusa. Suspenderam as contratações e abriram uma CPI.
O governador Sérgio Cabral, ainda desorientado, diagnosticou o assassino como “psicopata”, como um “animal”, reforçando as palavras de Sarney para quem Wellington é “um fanático”, “um fronteiriço, possesso – esta é a palavra – entre a loucura e a maldade”. O diagnóstico dos dois configura ‘exercício ilegal da profissão’.
Quem produziu Wellington? Por que um espetáculo tão macabro, no qual todos somos perdedores? Se não procurarmos responder essa pergunta, outros Wellingtons surgirão, tirando o gostinho dos Bolsonaros por seu linchamento, já que se suicidou. O diabo é que estamos todos perplexos, confusos. Quem diz que sabe o porquê do acontecido, sinalizando um único fator como a causa de tudo, comete um erro. Uma certeza nós temos: nem o presidente do Senado nem o governador sabem o que dizem.
No meio de tanta dor, não temos ainda a grandeza sequer de dizer: Descansa em paz, Wellington. Desconfio que além das pessoas tocadas de perto pela tragédia, precisamos todos, os 180 milhões de brasileiros, de assistência psicológica. Enquanto isso, só nos resta fazer como os familiares das crianças assassinadas e os moradores de Realengo que nesse sábado deram um enorme abraço na Escola Tasso da Silveira.
Alô, Alô, Realengo, aquele abraço solidário e aquele cheiro no cangote que Wellington nunca recebeu, levando consigo três fiapos de humanidade: o beijo na testa da professora de literatura, a preocupação com os animais desamparados e a retirada de um aluno de sua mira: “fica frio, gordinho, que eu não vou te matar”.
(Este artigo me foi enviado, através de e-mail, pelo colega baiano Otto Filgueiras, que vive em São Paulo há muitos anos. Não é bem o foco do meu blog, mas publico por achá-lo interessante e originalíssimo).

terça-feira, 5 de abril de 2011

I Encontro Estadual dos Blogueiros Progressistas RN

Foto: Daniel Dantas

 

Car@s,

Após os três dias de Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas, na plenária final, foram aprovadas algumas alterações da Carta de Blogueiros Progressistas de Natal.  Submetemos a carta agora à coletividade e aguardamos as devidas observações que julguem necessário.  Na sexta-feira, meio-dia, ela será considerada aprovada.

Caso você tenha alguma moção a propor em nome do movimento, essa é a hora de fazer a proposição.  Consolidaremos todas as informações até a sexta-feira.

O Encontro alcançou em seu conteúdo aquilo que era a nossa expectativa.  Os debates foram ricos e podem ser acompanhados neste espaço: http://www.ustream.tv/channel/blogueirosprogressistasrn.  Além disso, a prestação de contas foi publicada neste post: http://blogprogressistasrn.com/2011/04/03/relatorio-financeiro/.

Apresentamos as seguintes propostas para a coletividade, que serão implementadas em caso de concordância de parte considerável do grupo inteiro:

1) Realização, em abril, de debate sobre liberdade de expressão e blogosfera potiguar, enfatizando as perseguições sofridas por parte de representantes do poder público.  A ideia é convidar Ailton Medeiros, Carlos Santos, entre outros, para partilhar experiências e promover o debate.

2) Apoiar a realização e a ida de blogueiros potiguares para o segundo encontro nacional em Brasília.

3) Participar em debates on-line, por meio da ferramenta Tinychat, de temas do interesse da cidade.

4) Realizar no segundo semestre uma série de debates presenciais sobre os temas da cidade do Natal.

Para realizar tudo isso, entendemos que é fundamental organizar uma representação do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.  Assim, estaremos convidando, ainda esta semana, os interessados em organizar o Barão de Itararé local e organizar os eventos subsequentes, para um bate-papo aberto.

A seguir, a carta:

Carta de Natal

“A blogosfera é muito diversa e é difícil encontrar dois blogueiros que concordem absolutamente sobre um único tema. Quem imagina que os 200 blogueiros já inscritos ao Encontro vão se submeter a algum tipo de controle decididamente não conhece a blogosfera”

1º Encontro Nacional de Blogueiros

No espírito alcançado pelos “pioneiros” que se reuniram em São Paulo em agosto de 2010, nós, blogueiras, blogueiros, tuiteiros, tuiteiras do Rio Grande do Norte, identificados com as lutas pela democratização da mídia e contra o controle e censura pelo poder econômico do acesso à informação, nos encontramos em Natal entre os dias 1 e 3 de abril de 2011.

O principal objetivo de nosso encontro foi criar e fortalecer uma teia de participantes e militantes nas redes sociais que possa subsidiar discussões e ações práticas na direção de uma sociedade mais democrática e de uma cidade, estado e nação melhores, com maior participação dos cidadãos e uma resolução mais aprofundada de nossas demandas históricas.

Por isso, debatemos e propusemos, ao fim do nosso primeiro Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas do Rio Grande do Norte, os seguintes compromissos:

  1. Assumimos o compromisso de participar ativamente do debate acerca do desenvolvimento social, econômico, ambiental das cidades e do estado do Rio Grande do Norte, contribuindo na elaboração de políticas e ações públicas por parte da sociedade.
  2. Assumimos o compromisso de apoiar todas as iniciativas que tenham como objetivo buscar envolver novos adeptos das novas tecnologias, democratizando o acesso à Internet através da valorização de espaços coletivos de acesso gratuitos (cafés, shoppings, praças, universidades, etc.), defendendo que as instituições públicas permitam o acesso pleno às redes sociais como forma de democratizar o conhecimento e a informação.  Apoiamos as lutas pela inclusão digital, inclusive de movimentos como a Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital, conhecida pela sua defesa das lan houses.
  3. Assumimos o compromisso de apoiar e difundir as resoluções da 1º Conferência Nacional de Comunicação (1ª Confecom) e cobrar do Governo Federal a realização da 2º Conferência como formar de pautar a sociedade potiguar e brasileira sobre o debate da comunicação social.
  4. Assumimos o compromisso de continuar a provocar novas pautas e tomar iniciativas que coloquem temas do interesse da sociedade brasileira e potiguar no cenário público, seja no mundo virtual, seja nas praças e ruas do estado.
  5. Assumimos o compromisso de defender que os recursos públicos destinados à propaganda institucional devam ser democratizados, não levando em consideração a linha editorial do veículo que busque o financiamento, bem como defender e valorizar as novas mídias junto ao bolo total de verba destinada à publicidade institucional.
  6. Assumimos o compromisso de defender o fortalecimento das ações de controle social dos poderes públicos a partir da valorização dos Conselhos Setoriais e de Direitos, incluindo nesse ponto a luta pelo estabelecimento de Conselhos de Comunicação Social no estado e nos municípios.
  7. Assumimos o compromisso de defender a valorização dos meios de comunicação social públicos, como as TV´s Assembleia, Câmara de Natal, TV Universitária e FM Universitária como espaços de difusão da informação pública, denunciando o aparelhamento destes veículos para projetos pessoais, políticos e partidários.
  8. Assumimos o compromisso de defender a essência da finalidade das rádios comunitárias e denunciar o seu aparelhamento com objetivos partidários e pessoais.
  9. Assumimos o compromisso de lutar pelo estabelecimento de políticas públicas claras e efetivas acerca das tevês comunitárias, ressaltando seu papel no fomento à produção livre e popular de conteúdo e à democratização da informação no país.
  10. Assumimos o compromisso de defender a revogação, no âmbito do Ministério da Cultura, de todas as políticas que significaram retrocesso frente à gestão anterior, especialmente no que se refere à revisão da legislação acerca de direitos autorais no país, marcada simbolicamente pela retirada das licenças Creative Commons dos sites do ministério. Além disso, defendemos o fortalecimento da gestão participativa da cultura no país, incluindo aí a ampliação da política de editais e dos Pontos de Cultura.
  11. Assumimos o compromisso e convocamos as lideranças e personalidades públicas do nosso estado (pesquisadores, empresários, sindicalistas, estudantes, políticos, etc) a se engajarem numa campanha pela democratização da banda larga com a implementação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e a lutarem pela regulamentação dos Artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal, que legislam sobre a comunicação no Brasil e proíbem a concentração dos meios de comunicação.
  12. Assumimos o compromisso de buscar relações e desenvolver atividades em parceria com os movimentos defensores do software livre. 
  13. Assumimos o compromisso de apoiar e difundir políticas públicas que estimulem o fortalecimento das redes sociais digitais como fóruns importantes de debate, de formação de opinião pública e diversidade informativa.
  14. Assumimos o compromisso de nos inserirmos no debate pelo projeto do marco regulatório da Comunicação Social, apoiando e difundindo a Ação Direta de Omissão (ADO) do Parlamento na regulamentação da comunicação social apresentada pelo jurista Fábio Konder Comparato.
  15. Assumimos o compromisso de participar ativamente da construção da Coordenação de Movimentos Sociais (CMS) no Rio Grande do Norte, formada pela UNE, UBES, CTB, CUT, Conam, MST, entre outras instituições e movimentos.
  16. Assumimos o compromisso de defender que os recursos do Pré-Sal sejam aplicados na educação como mais um canal de financiamento de políticas públicas que visem democratizar o acesso à informação, cultura e educação.
  17. Assumimos o compromisso de apoiar a construção da Frente Parlamentar pela Democratização da Comunicação que visa promover, acompanhar e defender iniciativas que ampliem o exercício do direito humano à liberdade de expressão e do direito à comunicação no Brasil, cobrando da bancada federal do Rio Grande do Norte a sua adesão.
  18. Assumimos o compromisso de desenvolver uma rede articulada que denuncie toda e qualquer ameaça à liberdade de expressão, contra qualquer tipo de censura e perseguição. Denunciar o macartismo contemporâneo desenvolvido no Rio Grande do Norte, exercido através da perseguição sistemática, por parte de autoridades políticas, a jornalistas, tuiteiros e blogueiros que ousam criticar seus feitos e ações públicas no exercício do poder. Assim como também combater iniciativas que cerceiam a liberdade de expressão na Internet, como no caso do projeto de lei conhecido como “AI-5 digital”.
  19. Assumimos o compromisso de construir uma rede de comunicadores dos movimentos sociais onde poderemos construir eventos voltados para a formação e valorização da blogosfera, buscando sempre que possível, parcerias com Universidades, Faculdades e Escolas de Comunicação na organização de atividades que promovam a formação cidadã dos futuros profissionais da comunicação social.

Ao fim deste encontro, comprometemo-nos, também, em contribuir para o estabelecimento de núcleos municipais e regionais de blogueiros e tuiteiros progressistas, além de apoiar à realização do segundo encontro nacional, em junho, na cidade de Brasília.

Pleiteamos, por fim, a formação de um núcleo local do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé no RN.

Natal, 03 de abril de 2011.

Moções


Solidarizamo-nos com todas as vítimas do episódio do Blog do Paulo Doido, em Mossoró, que sofreram retaliações por se prestarem ao papel de críticos constantes dos erros e abusos da gestão municipal de Mossoró.  Pedimos ao Ministério Público e ao Judiciário que o caso seja investigado e os culpados sejam exemplarmente punidos.

Repudiamos a maneira desonesta em que, nas redes sociais e imprensa em geral, a gestão municipal em Natal tentou aferir capital político junto ao movimento estudantil, contribuindo para a distorção do sentido da Jornada Nacional de Lutas e transformando a interpretação da grande passeata do último dia 31 de março em uma "passeata do bem" e em agradecimento à prefeita Micarla de Sousa, o que não era verdade.

No último dia 2 de abril o jornalista e radialista J. Gomes estaria completando aniversário caso não tivesse sido brutalmente assassinado.  Defendemos uma investigação isenta e ampla do caso, com o julgamento e condenação exemplar dos culpados.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Discriminar pessoas não é um direito

Reproduzo do Blog da Cidadania

O enunciado contido no título deste texto deveria ser um truísmo, verdade incontestável ou evidente por si mesma, coisa tão óbvia que não precisa ser mencionada, uma banalidade, uma obviedade. Mas, espantosamente, não é. Discriminar ainda é visto – e vendido – por alguns como um “direito”, ou, como gostam de dizer, “liberdade de expressão”.

Discriminar pessoas, porém, não é e jamais será um direito. Dá para discordar de premissa tão evidentemente legítima? Não são muitos, os que discordam. Mas existem e têm muito espaço para dizerem suas “idéias” por terem representantes de peso do ponto de vista de que discriminar seria “direito” ou “liberdade” de algum tipo.

Ninguém assume que discrimina outras pessoas, claro. A imagem do discriminador é negativa, de alguém intolerante e estúpido. As acepções do verbo discriminar, porém, quando analisadas, permitem enquadrar a todos aqueles que juram que não estão discriminando quando agem da forma que tais acepções detalham.

Discriminar é um verbo transitivo. Portanto, pede paciente da ação discriminatória. Segundo o dicionário Houaiss, é perceber diferenças, distinguir, discernir. Mas não só. É, também, colocar alguém ou alguma coisa à parte por algum critério para especificar, classificar, listar.

E a amplitude da discriminação não pára por aí. Discriminar é não (se) misturar, é formar grupo à parte dos portadores de alguma característica étnica, cultural, religiosa etc., vedando sua presença em meios sociais e locais pré-especificados.

O recente episódio envolvendo o deputado Jair Bolsonaro em mais uma agressão à sociedade, agressão essa igual a todas aquelas que freqüentemente atira,  deixa ver em que a discriminação se traveste de forma a cumprir suas características intrínsecas.

Os insultos de Bolsonaro a Preta Gil, por exemplo, a discriminaram pela cor da pele e por uma sua suposta preferência sexual. Como a lei brasileira só criminaliza a discriminação por etnia, mas não criminaliza discriminação por ideologia, o deputado racista e homofóbico refugiou-se na homofobia.

Esse tipo de comportamento se deve a três coisas que o deputado não entende: a natureza do ato de discriminar, o fato de que discriminar homossexuais tem um nome, homofobia, e a natureza da homossexualidade.

Toda vez em que você critica pessoas publicamente por suas características intrínsecas, tais como cor da pele, origem geográfica, crença religiosa ou comportamento sexual, entre outros, está, sim, discriminando, pondo à parte e condenando pessoas por uma faceta delas que não têm como mudar.

Quem se sente agredido pela forma como uma pessoa se satisfaz afetiva e sexualmente e se julga no direito de exortar outras pessoas a agirem da mesma forma, tem uma qualificação: homofóbico.

Fobia a homossexuais. Fobia, mais uma vez de acordo com o dicionário, é aversão insuportável, para simplificar. Pode ser patológica, mas não necessariamente. Em geral, é um aspecto cultural do indivíduo que se deve ao meio social em que nasceu e cresceu. Ou desejo inconsciente.

Já a natureza do comportamento homoafetivo, essa é a parte que menos entende gente como Bolsonaro ou um Reinaldo Azevedo e outros “formadores de opinião” que vivem pregando o “direito” de discriminar homossexuais por palavras e atos públicos.

Um homossexual não pode mudar sua natureza tanto quanto um negro não pode mudar de pele, mesmo que quisessem. A atração pelo mesmo sexo independe da vontade. Homossexuais percebem suas tendências ainda na infância.

A homossexualidade é tão natural nos seres vivos que entre os animais irracionais ela ocorre intensamente. Os símios, por exemplo, praticam homossexualismo. E não é por falta de “porrada”, como pensa o inculto deputado do PP fluminense.

Comentário de um leitor que vetei, mas que não deletei porque pode exemplificar a desinformação dos que crêem no “direito” de discriminar,  permite mostrar a natureza dessa ideologia bizarra. O nome da pessoa, aliás, não importa. Há muitos outros iguais. Vale tampar o nariz e ler, para entender o que essas pessoas pensam:

Só vou acreditar nessa raivinha toda se um dia processarem um preto que falou mal de branco ou quando um branco puder lançar uma revista com o nome de Raça Branca, uma banda Brancura Junior ou andar com camiseta 100% Branco sem ser importunado.

Aliás, deveriam explicar por que a maioria dos pretos, quando sobe na vida, casa com brancas, por que a obsessão nacional com as louras e por que a África não vai para a frente.

Deveriam, mas não podem, porque o verdadeiro debate racial está interditado pelos fricotes da claque politicamente correta como a que abunda aqui.

O mesmo vale para os veados e sapatorras: eles podem esculhambar impunemente as instituições tradicionais, mas não podem ser minimamente criticados.

E Bolsonaro está certissimo quanto ao regime militar: tinha-se mais autoridade, mais progresso e mais segurança (menos para a esquerdalha tirânica que queria implantar a força o comunismo aqui, claro).

E, verdade também, os presidentes miilitares serviram ao país e não enriqueceram, como os que vieram depois (exceto Itamar).

Já a Preta Gil, bem , sem comentários…Viva Bolsonaro, um dos poucos que ousam dizem a verdade na era da ditadura do politicamente correto!

Tente controlar a repulsa. Analise o que essa pessoa não entende, e que é o seguinte:

1 – Falar mal de branco também é crime. O que a lei tipifica é a discriminação por etnia, não só pela etnia negra. Mas discriminar branco não é tão combatido porque brancos não foram escravizados.

2 – Não há estatísticas sobre ser a “maioria” dos “pretos” que se une a “brancas”, mas mesmo se for verdade isso decorre da estigmatização dos negros, associados ao insucesso pela situação de penúria que o racismo lhes produz.

3 – A África negra – que foi aquela à qual o comentarista quis se referir – vai para frente, sim. Está indo. Não foi antes porque foi saqueada pelos brancos.

4 – Debate racial é racismo, um crime, uma perversão que quer discutir a cor da pele das pessoas, tornando alguns seres humanos inferiores a outros.

5 – Os “veados e sapatorras” a que esse infeliz se refere não “esculhambam” nada, apenas exercem o direito de se relacionarem sexual e afetivamente com quem bem entenderem. Querer escolher o que devem sentir em termos de desejo e paixão, é uma barbaridade.

6 – Ninguém passa a gostar de jiló por ver alguém comendo jiló. As escolhas gastronômicas, em alguma medida, explicam por que uns gostam de pessoas do sexo oposto e outros, de pessoas do mesmo sexo.

O resto do que o indivíduo diz, é direito dele. Se gostou da ditadura, é a opinião política dele e tem o direito de dizê-la, assim como qualquer um tem direito de discordar. Deve-se, aliás, debater esse assunto, mas essa é outra discussão.

O resumo de tudo é que não se pode confundir apologia aos crimes de racismo e de homofobia (que é crime mesmo não sendo assim tipificada em lei, ainda) com liberdade de expressão. Enquanto a sociedade brasileira permitir que até um deputado cometa tais crimes, continuaremos a ser um país ainda incivilizado.

A opinião pública, entre o velho e o novo

Reproduzo do Blog de Emir do Site Carta Maior

A decadência irreversível da velha mídia e o surpreendente surgimento
de novas modalidades de formação democrática da opinião pública

Atribuem à internet – sua velocidade, seu caráter interativo, sua “irresponsabilidade” (“Qualquer um pode escrever...”, tipo Cansei) – a decadência da imprensa escrita. Claro que isso tem parte da verdade. Quem lê no dia seguinte o que já tinha ido na internet no dia anterior – às vezes lê nos jornais 2 dias depois de ter lido na internet -, tem uma sensação de tempo perdido, de notícia requentada, de um mundo superado pela rapidez virtual.
Além de que a internet, nas suas distintas modalidades, supera um dos problemas que permitiu o monopólio privado de algumas famílias, que pretendiam ser donas da formação da opinião pública, porque o investimento necessário para publicar um jornal ou uma revista é muito grande, enquanto que na internet é bastante pequeno ou quase nenhum.
A internet tornou-se assim um forte instrumento de democratização na circulação de informações, rompendo a fonte única e homogeneizadora das agências, assim como na interpretação dos fatos. A agenda nacional passa a ser disputada à velha mídia pelas novas formas, pluralistas, de expressão midiática, na internet.
Mas a razão de fundo da decadência irreversível da velha mídia está na sua falta total de credibilidade. A ponto de que atacaram implacavelmente o governo Lula e chegaram ao final de 8 anos com apenas 4% de rejeição do governo e 87% de apoio, o que vale também para medir a capacidade de influência da velha mídia sobre o povo brasileiro.
O melhor sintoma da decadência irreversível da imprensa escrita está na ausência dos jovens entre seus leitores, projetando a desaparição dessa modalidade de imprensa em um futuro não muito distante – porque se tornará inviável economicamente, depois de se tornar politicamente intranscendente.
Quando o jornal da ditabranda, dos carros emprestados à Oban e do “espectro do comunismo” me propôs escrever o artigo principal da página 3 em um domingo – em um reconhecimento claro que jornalistas seus tinham cometido graves erros que aumentam ainda mais a falta de credibilidade do jornal -, eu respondi que não me interessava. Que um artigo escrito em um blog, multiplicado pelos que os reenviam, mais seus ecos nos twitters e nos facebooks, além do twitcam, consegue muito mais leitores que um artigo em um jornal. Além de chegar aos jovens e aos setores dinâmicos da sociedade. Pesquisas mais recentes feitas pelo próprio jornal demonstram como seus leitores hoje são, em sua grande maioria, tucanos (os petistas abandonaram a leitura do jornal), dos grupos A e B, que representam a minoria da sociedade, com ausência absoluta de leitores jovens. Para a empresa interessa, porque são setores de maior poder aquisitivo, o que chama publicidade, mas se distanciaram ainda mais do Brasil real.
O jornal é muito chato, desinteressante, requentado, com cronistas que pararam nos ano 90, jurássicos, que se negam a acreditar que o país mudou, parecem todos iguais, repetem velhões chavões. Alguns jovens de idade, envelheceram prematuramente, incorporaram um ceticismo decadente, que chega rapidamente ao cinismo. Ficaram com os velhos tucanos como leitores, gente sem interesse e sem influência. Dai que tenham um caderno que se pretendem cultural que não é lido por ninguém, nem por eles mesmos.
Eu respondi à oferta que prefiro escrever aqui, propondo que a direção do jornal – que me ligou diretamente – mandasse um texto com suas opiniões, com o compromisso que seria publicado integralmente – o que eles não fazem -, mas que teriam que receber as opiniões dos leitores – interatividade a que eles não estão acostumados. Claro que não mandaram, odeiam a internet, estão irremediavelmente auto-excluidos do futuro da formação democrática da opinião pública.
Mas a velha mídia ainda constitui uma espécie de Exército regular- pesados, caros, lentos -, enquanto nós agimos com métodos de guerrilha, de estocadas, valendo-nos da mobilidade, da surpresa, da criatividade, do humor. Essa a grande batalha democrática entre o velho - que tenta sobreviver, com grandes dificuldades - , e o novo – que busca, com enormes esforços –criar os espaços democráticos e pluralistas que o novo Brasil requer.

Postado por Emir Sader às 04:47

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Soneto do óbvio relutante

Ubiratan de Lemos

Triste relação essa minha com o poema

Bem no modelo machado e sândalo

Reflete sempre desalento como tema

Quando a vida sacaneio como um vândalo

Como o vermelho no fio da navalha

Ou o triste canto de passarinho cego

Faço poema se me faço canalha

Afirmo poesia se a vida renego

Versifico os meus próprios cataplasmas

E das rimas destilo meus ungüentos

Sôo os uivos de todos meus fantasmas

Se benção e maldição confundo

E percorro descaminhos conhecidos

Cedo ou tarde a poesia inundo