quarta-feira, 30 de março de 2011

CartaCapital: Lula, o doutor do povo

de Conceição Lemes

por Eduarda Freitas*, de Coimbra, em CartaCapital


A luz do sol estica-se devagar no pátio da Universidade de Coimbra. Ainda não são nove da manhã. Um grupo de jovens conversa nas escadas que dão acesso à Sala dos Capelos, onde mais tarde vai ser atribuído o grau de Doutoramento Honoris Causa a Lula da Silva. Nas mãos têm máquinas fotográficas. Às costas, a bandeira do Brasil. “Isto é muito importante para nós, por tudo o que Lula fez em oito anos, por todas as mensagens que passou ao mundo em língua portuguesa”. Denise tem 20 anos, é de Caxias do Sul. Está em Coimbra desde janeiro, a estudar Direito. Faz parte da comunidade de quase mil alunos brasileiros que estudam na academia de Coimbra. À entrada do pátio, lê-se: “Em defesa da Amazônia, Dilma pare a barragem de Belo Monte”. Os sinos tocam. Os batedores da polícia aproximam-se. Os jornalistas apontam as máquinas. Centenas de pessoas gritam num português cantado: “Lula! Lula!”. Destaca-se uma voz: “Tira uma foto com o gaúcho, Lula!”. O ex-presidente levanta a mão, como quem pede desculpa: “Estamos atrasados…”. Ainda assim, Fernanda Esteves consegue uma foto: “Eu nem acredito! Consegui…ai…”, diz com a voz entregue à emoção e os olhos castanhos a encherem-se de água. “Estou tremendo!”. E Lula ainda nem era doutor.

Doutoramento para poucos

Faltava pouco. Ao final da manhã, Lula da Silva haveria de sair da mais antiga universidade de Portugal e uma das mais velhas da Europa, com o título de doutor Honoris Causa. Uma distinção que só chega a quatro ou cinco pessoas por ano. Mas antes, havia ainda que cumprir um rigoroso e tradicional protocolo. Já dentro da Biblioteca Joanina, Lula aguardava pela formação do cortejo acadêmico. À entrada da Universidade, ninguém arredava pé. Improvisava-se a voz. Cantava-se o hino brasileiro misturado com saltos e gritos de “sou brasileiro, com muito orgulho, sou brasileiro!”. A manhã ia crescendo. “Isto havia de ser sempre assim”, confidenciavam três empregadas de limpeza da biblioteca onde  estava Lula. “Ganhamos o dia e não fazemos nada!”, riam. Mais um carro a chegar. Sai o primeiro-ministro demissionário de Portugal, José Sócrates. “Não sei se ele é bom politico, mas sei que ele é um gato…!”, riam duas amigas de olhos azuis. Agora sim, Dilma Rousseff. “ Eu quero vê-la!”, gritava Maria da Conceição, uma portuguesa de cabelos brancos, no alto dos seus sessenta anos. Entre seguranças, Maria viu Dilma, casaco vermelho escuro, sorriso rasgado: “Estou muito feliz. Ela é uma grande mulher!”.

Homenagem ao povo brasileiro

Seguiu-se o cortejo. Palmas, muitas palmas, para o quase doutor. Um quinteto de metais marcava o ritmo solene da ocasião. Lula seguia de capa preta e um capelo – pequena capa – sob os ombros. Distinguia-se dos outros elementos do cortejo, cerca de cem doutores de Coimbra, por não usar ainda a borla, uma espécie de chapéu. A luxuosa Sala dos Capelos, datada do sec. XVI, repleta de retratos dos reis de Portugal, aguardava Lula da Silva. “Mais do que um reconhecimento pessoal, acredito que esta láurea é uma homenagem ao povo brasileiro, que nos últimos oito anos realizou, de modo pacifico e democrático, uma verdadeira revolução econômica e social, dando um enorme salto qualitativo no rumo da prosperidade e da justiça”. A voz fugia-lhe, emocionado. “Nada disto seria possível, igualmente, sem a colaboração generosa e leal daquele que foi o meu parceiro de todas as horas, um dos homens mais íntegros que conheci”. Lula referia-se ao seu sempre vice-presidente, José Alencar, falecido na passada terça-feira. A regra dos doutoramento impõe silêncio, mas na Sala dos Capelos ouviram-se palmas no final do discurso de Lula da Silva. E foi ao catedrático jurista português Gomes Canotilho,  que coube fazer o discurso de elogio do doutorando Honoris Causa Luiz Inácio Lula da Silva. Antes do ex-presidente do Brasil receber o anel de senhor doutor.

Lula, o homem de mãos grandes

“Foi o maior anel de doutoramento que fizemos, devido à mão robusta de Lula!”, conta sorridente o joalheiro António Cruz. “ O anel é feito no melhor ouro português, rematado com um rubi com cerca de cinco quilates, elevado por 12 garras”. O preço? “Não posso dizer. Mas não é económico”, ri.  “Vimos várias fotos de Lula para lhe fazermos um anel personalizado. Foi muito especial para nós…!”. Por esta joalharia que vive paredes meias com a muralha de Coimbra, já nasceram anéis de doutoramentos honoris causa para os dedos dos prêmios Nobel José Saramago e Amartya Sen, para Jorge Amado, entre muitos outros. Apesar de tantos anéis, este foi a primeira cerimônia de doutoramento a que António foi assistir: “Admiro muito Lula da Silva!”. Uma hora antes, na sala onde são homenageados os maiores doutores entre os doutores, Canotilho Gomes justificava a atribuição deste título ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”. Emocionado, de sorriso triste, sem prestar declarações, Lula saiu rápido para apanhar o avião para o velório de José Alencar. Ainda assim, uma jornalista brasileira, atirou uma pergunta sem ponto de interrogação: “Ei, presidente, você agora é doutor!”

* A nossa colunista portuguesa Eduarda Freitas, de Coimbra, acompanhou o emocionante doutoramento do ex-presidente Lula na tradicional Universidade da cidade.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Criticar Micarla dá voto em Natal

Reproduzo do blog noticiando de Cefas Carvalho

A pesquisa da Consult sobre intenção de voto para a Prefeitura de Natal em 2012, divulgada na última quinta-feira, dia 24, permite diversas leituras, mas, uma leitura salta aos olhos: ser adversário direto da prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV) garante intenção de voto do eleitor natalense.
Obviamente muitos jornalistas e blogueiros analisaram a liderança do ex-prefeito de Natal, Carlos Edu­ar­do Alves (PDT) como sintomática. Com 50% na simulação de voto espontâneo e 50% na estimulada, Carlos se destacou ao longo desses dois anos como crítico implacável da administração Micarla. Mais que isso, as críticas de Micarla a Carlos (antecessor dela) acabaram resultando em um sentimento favorável a ele, tal o desgaste de Micarla e sua administração.
Mas, outras performances na pesquisa merecem análise. O vereador natalense Adão Eridan (PR) teve na espontânea, 5,1% das intenções de voto, percentual acima de nomes como Fernando Mineiro (PT), com 4,5, e de Felipe Maia e Fábio Faria. Sintomático que Adão tenha se transformado em crítico feroz de Micarla nos últimos meses. A população associou sua artilharia verbal contra a prefeita como capacidade de administrar o município. Somando as intenções de voto de Carlos, Adão Eridan e Mineiro (três dos maiores críticos de Micarla), temos 59,6% dos ouvidos na pesquisa.
O percentual de Wilma de Faria, do PSB, (34,5%) considerado baixo pelo peso eleitoral dela, mostra que o eleitorado pode ter se cansado da relação dúbia que a “Guerreira” teve e tem com Micarla. Ou seja, criticar Micarla dá votos.
VICE-PREFEITO
Tanto que até mesmo o vice-prefeito Paulinho Freire tem percentuais maiores que o da prefeita, tanto na espontânea como na estimulada.
Na primeira, Paulinho tem 6,4%, Micarla, 5,9%. Na segunda, eles apresentam os mesmos números. Lembremos que Paulinho administrou Natal durante um mês, quando Micarla se licenciou para fazer uma pequena cirurgia em São Paulo.
Paulinho não criticou Micarla explicitamente na ocasião, mas parecia deixar claro que queria administrar de modo diferente, menos espalhafatoso que a prefeita-borboleta. Criticar Micarla, pelo visto, dá prestígio e voto em Natal, nos dias de hoje.

http://cefascarvalhojornalista.blogspot.com/2011/03/criticar-micarla-da-voto-em-natal.html

às Segunda-feira, Março 28, 2011

sábado, 26 de março de 2011

Carta dos Blogueiros Progressistas do RN (primeira versão) de danieldantas79

Estamos publicando, para iniciar a discussão, a primeira versão da Carta dos Blogueiros Progressistas do RN.  A ideia é que cada um dos participantes de nosso encontro já possa ler esta versão da carta e tomar nota do que possa contribuir em propostas de redação, alteração, discordância ou quais ajustes.  O debate sobre este documento acontecerá na manhã do dia 3 de abril, na plenária de encerramento do I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas do RN:

No espírito alcançado pelos “pioneiros” que se reuniram em São Paulo em agosto de 2010, nós, blogueiras, blogueiros, tuiteiros, tuiteiras do Rio Grande do Norte, identificados com as lutas pela democratização da mídia e contra o controle e a censura pelo poder econômico do acesso à informação, nos encontramos em Natal entre os dias 1 e 3 de abril de 2011.

O principal objetivo de nosso encontro foi criar e fortalecer uma teia de participantes e militantes nas redes sociais que possa subsidiar discussões e ações práticas na direção de uma sociedade mais democrática e de uma cidade, um estado e uma nação melhor, com maior participação dos cidadãos e uma resolução mais aprofundada de nossas demandas históricas.

Por isso, debatemos e propussemos ao fim de nosso primeiro Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas:

  1. Participar das lutas encampadas pelo movimento nacional, especialmente as que dizem respeito ao apoio crítico ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL); à luta pela regulamentação dos Artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal, que legislam sobre a comunicação no Brasil e proíbem a concentração abusiva dos meios de comunicação; ao combate a iniciativas que cerceiam a liberdade de expressão na Internet, como no caso do projeto de lei conhecido como “AI-5 digital”; à elaboração de políticas públicas que estimulem o fortalecimento das redes sociais digitais como fóruns importantes de debate e formação de opinião pública e diversidade informativa; à cobrança pela efetivação por parte do Executivo e Legislativo Federais das resoluções aprovadas na I Conferência Nacional de Comunicação, ocorrida ainda no fim de 2009.
  1. Defender a realização de uma segunda Conferência Nacional de Comunicação ainda durante o governo da presidenta Dilma Roussef, desde que o executivo tenha condições de implementar as decisões da primeira conferência.
  1. Pressionar o governo federal para que envie ao Congresso o projeto de lei que regulamenta os meios de comunicação no Brasil, preparado ao fim do governo anterior, e recolhido pelo atual ministro de Comunicações, Paulo Bernardo.
  1. Defender a revogação, no âmbito do ministério da Cultura, de todas as políticas que significaram retrocesso frente à gestão anterior, especialmente no que se refere à revisão da legislação acerca de direitos autorais no país, marcada simbolicamente pela retirada das licenças Creative Commons dos sites do ministério.  Além disso, defendemos o fortalecimento da gestão participativa da cultura no país, incluindo aí, a ampliação da política de editais e dos pontos de cultura.
  1. Cobrar dos governos municipais e estadual políticas públicas, especialmente no âmbito da cultura, da educação, da comunicação e da ciência e tecnologia, que representem avanço na democratização do acesso e da participação popular.
  1. Rejeitar toda forma do que poderíamos chamar de macartismo contemporâneo que tem tido seu espaço aqui no Estado, através da perseguição sistemática, por parte de algumas de nossas autoridades políticas, a jornalistas, tuiteiros e blogueiros que ousam criticar seus feitos e ações públicas no exercício do poder.
  1. Defender o fortalecimento das ações de controle social dos poderes públicos a partir dos Conselhos setoriais e de direitos, incluindo nesse ponto a luta pelo estabelecimento de conselhos de comunicação social no estado e nos municípios.
  1. Comprometer-se a participar ativamente do debate acerca das cidades e do estado do Rio Grande do Norte, contribuindo na elaboração de políticas e ações públicas por parte da sociedade.

Ao fim de nosso encontro, apontamos a necessidade de que sejam estabelecidos núcleos municipais e regionais de blogueiros e tuiteiros progressistas, além do apoio à realização do segundo encontro nacional, em junho, na cidade de Brasília.

Pleitaremos, por fim, a formação de um núcleo local do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé no RN e a realização do terceiro encontro nacional na capital potiguar.

Natal, 03 de abril de 2011.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Atentado contra a blogosfera: Blogueiro carioca sofre tentativa de assassinato.

Ontem o blogueiro carioca Ricardo Gama sofreu um violento atentado quando caminhava na Rua Santa Clara, em Copacabana. Foram 3 tiros disparados contra o blogueiro por um pistoleiro que estava em um carro. Testemunhas afirmam que o pistoleiro desceu do carro, chamou Ricardo pelo nome e fez os três disparos, na cabeça, no pescoço e no tórax do blogueiro.


Ricardo está no hospital Copa D´Or em Copacabana e já passou por uma cirurgia. Felizmente os médicos afirmam que houve uma melhora satisfatória após a cirurgia.

Ricardo Gama é conhecido por manter um blog crítico ao governo Sergio Cabral e ao prefeito Eduardo Paes. Nos últimos dias Ricardo publicou alguns posts em que denunciava empresários do tráfico no Rio de Janeiro.

O atentado contra Ricardo Gama é um atentado contra todos os blogueiros que atravessam enormes dificuldades para poder trazer notícias diferentes das que estamos acostumados a receber pelos grandes meios de comunicação. O atentado contra Ricardo é também um atentado contra a liberdade de expressão. Estejamos atentos. Não permitamos que o estado autoritário nos censure através da imposição do medo.

A resposta para qualquer tentativa de mordaça deve ser o estridente som dos blogs!


http://fatossociais.blogspot.com/2011/03/atentado-contra-blogosfera-blogueiro.html

domingo, 13 de março de 2011

Carnaval de Macau, para o povo ou para a população?

cordão da fantasia

Foto: Tião Maia

Voltei ao carnaval da minha terra salgada oito anos depois. Após ouvir opiniões diversas sobre como andavam as coisas por lá, pude finalmente ver de perto. A primeira impressão que tive sobre a cidade me foi passada pela aparência das ruas e prédios, é nítida a diferença. Encontrei Macau asfaltada, sem a lama aparente, sequer as casinhas destroçadas da periferia perduraram. Alvíssaras visões. Buscando enxergar além da aparência, pude verificar in loco a ampla aceitação da atual administração, a despeito do temor de alguns em se referir criticamente ao alcaide do alto-oeste, restrições quanto a democracia e a transparência não são poucas, a começar pelos questionamentos feitos pela representante do judiciário local no tocante ao volume de dinheiro destinado a promoção do carnaval 2011.

O nosso carnaval é um mega-evento, todos sabem, e adquiriu um formato que se distanciou das nossas tradições, entretanto, não sem esforço, sairei da atitude ptolomaica e tentarei compreender o que vi considerando o maior número de variáveis envolvidas no fenômeno. Impossível não conjugar carnaval com política! Os recursos públicos investidos são vultosos, a cultura do nosso povo é efervescente e carnavalesca, a economia da cidade pulsa mais forte no período momesco, há uma enorme afetividade da população do estado em relação a nossa festa, enfim há um grande impacto sócio-econômico do carnaval sobre a sociedade macauense. Conseqüentemente é do interesse de todos a discussão sobre os rumos que serão dados ao maior evento da nossa cidade.

Carnatalizar ou manter a tradição? Aparentemente excludentes, ao meu ver, as duas tendências me parecem, hoje, complementares. Do ponto de vista econômico o “São João fora de época” foi responsável pela grande visitação do folião-turista local, pessoas de todo e estado e região, principalmente jovens moveram-se à Macau para ver e ouvir as bandas do momento, que lotam parques por onde passam, gerando divisas sob a forma de aluguel de residências, consumo de alimentos e bebidas e permanência na rede hoteleira local.

Por outro lado o filho ausente que volta sempre no carnaval, não pode e não deve ser esquecido. Ainda que em menor quantidade, dado o gigantismo assumido pelo evento, graças principalmente ao retorno de mídia e os milhões gastos com atrações, foi e é o público fiel que fez e faz junto com os seus familiares o sucesso eterno do carnaval de Macau.

A valorização da cultura local tem sido o principal combustível dos grandes carnavais nacionais como o de Pernambuco e o do Rio de Janeiro. No Rio a industrialização do desfile das escolas, acabou por se tornar um prato caro à maioria da população, o que num determinado momento esvaziou o carnaval de rua, mas não tardou a ser o fato gerador do ressurgimento das bandinhas de rua, dos blocos que hoje arrastam centenas de milhares de pessoas a cada dia de carnaval: Banda de Ipanema, Cordão do Bola Preta, Cacique de Ramos entre outros resistiram bravamente e voltaram a cena do carnaval carioca. Quem sabe por um fenômeno do inconsciente coletivo, o Cordão da Fantasia cumpriu esse papel. Resistiu! E essa resistência culminou no sucesso, na beleza, na poesia, no lirismo, na música autoral, no artista local, nas famílias macauenses felizes nas ruas promovendo um reencontro absolutamente fantástico. No esteio do Cordão ouvi dos meus amigos do Jardim a boa notícia que irão re-editar o bloco em 2012, isso com certeza trará de volta muitas pessoas que não se identificam com o Axé e o Forró, ampliando nossos horizontes e diversificando nossa programação, agregando valor e charme ao nosso carnaval.

Carnaval quem faz é o povo. Benito dizia que Macau não tem povo, tem população. Talvez por que o nosso povo foi vitimado pelo êxodo provocado pela industrialização das salinas, pelo equívoco histórico do porto-ilha, pela natimorta alcanorte, temos hoje uma população local e um povo disperso mundo a fora, mas o carnaval une a todos. Gerar divisas à população e preservar a cultura do seu povo. É um grande desafio. Quem topa?