Não vivi uma infância sob a égide da pancadaria, de fato apanhei bem menos do que mereci. Não me refiro a espancamento ou maus tratos, nem tão pouco a ser amarrado ao pé da mesa. Levei algumas palmadas, enfrentei algumas poucas sessões de palmatória (lá em casa as penas eram hexadecimais) e que eu lembre uma ou outra bofetada, essas sempre por motivo fútil como roer as unhas ou mudar o canal de TV na hora da novela. Mas nada disso me deixou traumatizado, não carrego mágoas nem amo menos minha mãe por isso (meu pai nunca me bateu). A polêmica é inócua, discute-se sobre mais uma lei que “não pega”. A violência doméstica não está nas palmadas, os casos extremos já estão previstos no código penal e no estatuo da criança e do adolescente. Uma maior distribuição de renda, uma remuneração digna aos educadores, a redução da jornada de trabalho como forma de garantir uma presença mais efetiva dos pais junto à família, creches, esporte, cultura e lazer de qualidade nas comunidades de alta densidade populacional são medidas que podem reduzir drasticamente os índices de violência doméstica contra crianças e adolescentes. Sou educador e trabalho com segmentos de alta estratificação social, entre esses é comum encontrarmos crianças mimadas e sem limites onde o desrespeito aos mais velhos vem de casa, tios, avós e principalmente pais são tratados com desdém, que dirá nós professores. Creio que umas boas palmadas uma “chamada” mais rigorosa a moda antiga não faria mau. Pior é ver na favela ou na cobertura o filho mau educado aprender a respeitar a lei do “bicho”: Se vacilar a bala come. O rigor da família ou da escola é mais salutar e absolutamente necessário para imposição de limites saudáveis à sobrevivência e ao bem estar do corpo, da mente e da alma, por que o inimigo ruge como um leão ao redor da presa esperando somente um pequeno deslize fora dos limites de segurança para vitimar nossos jovens com um crack na espinha dorsal.
Um comentário:
Concordo plenamente mestre Bira.
Palmada e canja de galinha não faz mal a ninguém.
Gostei principalemnte do "apanhei bem menos do que mereci"! Cabe uma dúvida: (1) Sua mãe tinha a mão leve ou (2) você conseguia, com seus argumentos, que a pena fosse reduzida.
Vou fico com a alternativa 2, pois a eloquência, no seu caso, é arte congênita.
Esse texto é sinal que as palmadas educam, e não conseguiram tirar o que o que você tem de mais especial: a verve.
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