Mas por necessidade que por escolha, passei o carnaval em Natal, em casa, como pediu a alcaide lepidóptera. Macauense que sou, tenho a cultura momesca nos cromossomos. Frevo, sambas e marchinhas fazem parte da minha memória auditiva e corporal. Digo isso, pois o meu maior estranhamento ao testemunhar o acanhamento doméstico da folia natalense, foi perceber que as pessoas simplesmente não dançam. A banda do maestro Neemias executava o mais fino repertório de frevos e marchinhas, com a competência e o talento que tão bem conhecemos, e a turba acompanhava a passos lentos, quando movia passos. O espetáculo era mesmo o desfile das Quengas: glamourosas , fechativas, alegres, bonitas(algumas horríveis) fizeram a festa do domingo, como de práxis. Achei esvaziado em relação a anos anteriores, certo que antes tínhamos shows grandiosos como Martinho da Vila e Margareth Menezes por exemplo, mas a despeito da falta dos 250mil mal gastos com o Pe. Fábio Jr, o centro estava mal iluminado, mal decorado, mal divulgado. A decoração ainda está lá pendurada nos postes da Vigário Bartolomeu pra quem quiser ver: pedaços de tecido azul e vermelho que mais parece um pastoril. Talvez a decoração de Natal ficasse bem no carnaval, a de carnaval no São João e quem sabe a do São João sirva para semana da pátria e assim seguimos desorientados, assincrônicos. Não foi nada muito diferente de um dia de MPBeco por exemplo, platéia atenta ao palco, boa música e o fiel público do Beco-da-lama prestigiando seu amado recôndito. Serviu para rever velhos amigos como o casal Ilka Jones & Doca Boulevar e os habituées “Nós do Beco”, como o artista plástico Tiago Vicente encarnando o capeta do “Homem que desafiou o diabo” e os meus amiguíssimos João Nuremberg e Tatiana. Todos os méritos da festa para Lula Belmont e sua trupie intrépida que fazem cultura com irreverência, independência e desprendimento, a revelia do mandatário e seus desmandos.
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